Loading...

Waldick espetacular!


Guindado ao posto de cantor popular por gente que não aquela a quem se costuma rotular de “A” e “B”, Waldick é um poeta do povo, um compositor que conhece as manhas das notas musicais e sabe os caminhos que seus versos devem seguir até encontrar o coração de seus ouvintes.  Ele é um a quem se deve reverenciar.E foi movida por este espírito de devoção que a atriz Patrícia Pillar decidiu reunir alguns também devotos da soberania de Waldick e produzir shows no Centro Cultural SESC Luiz Severiano Ribeiro, em Fortaleza, Ceará. Acompanhado por bela orquestra, com iluminação a cargo de Maneco Quinderé, deles resultou o DVD Waldick Soriano ao Vivo (Som Livre). Trabalho de extremo bom-gosto e carinhosamente criado para relembrar alguém que, na verdade, nunca saiu nem sairá do coração de sua gente que tanto o ama.Com a direção musical a cargo da experiência e do talento de José Milton, foram convocados alguns bons arranjadores: Itamar Assiere, Ivan Paulo, João Lyra e Ítalo (que na orquestra tocam violão e acordeom, respectivamente) e Jota Moraes (pianista e regente do grupo de 12 músicos escolhidos para acompanhar Waldick).A orquestra é brilhante. Sem deslizes, com um balanço contagiante, realizando uníssonos perfeitos, ela toca à perfeição os boleros que compõem o ótimo roteiro criado por Fausto Nilo e Patrícia Pillar. A cozinha tem o baixo acústico de Jorge Helder e a bateria de Luiz Duarte. Mas os metais e o ritmo são o ápice. Márcio Resende (saxes tenor e soprano e flauta), Edson Rodrigues (sax alto), Enok e Fábio Ferreira (piston e flugel), Nilsinho (trombone) dão a cada bolero o sabor que só eles têm – lembrando o som dos mariachis mexicanos – enquanto a percussão de Don Chacal, principalmente o bongô, nos remete a Cuba dos boleros. Começa Waldick Soriano ao Vivo. A fila na porta do teatro é enorme. O público, excitado, como que antevendo um momento histórico, cantarola alguns sucessos de seu ídolo. Vêem-se cenas da montagem do palco; ouvem-se os técnicos testando os microfones; acordeom, violão e tumbas se aquecem; o piano e os sopros são afinados pelos músicos. O público lota a sala de espetáculos.Aplausos calorosos. Waldick Soriano entra. Com paletó e calça escuros e seu indefectível chapéu, ele apóia uma perna num banco alto. Ao lado, uma mesinha com um copo d’água. Logo ele tirará do bolso uma garrafinha, que provavelmente não contém água e depois de um gole a colocará sobre a mesa.Começa o desfile de 17 boleros. A maioria é só de Waldick. Algumas são em parceria: “Fujo de Ti”, com Jorge Gonçalves; “Vestida de Branco”, com Sebastião Ferreira da Silva e “Nostalgia”, com Portinho. Há duas versões, uma de Antônio Marcos, (“Eu Vou Ter Sempre Você” e “Perfume de Gardênia”, de Carlos Amercio Rego. E também tem boleros de outros autores: “A Carta”, de Jorge Gonçalves e Julio Louzada, “Dama de Vermelho”, de Aldo Benatti e Jeca Mineiro, e “A Voz do Povo É a Voz de Deus”, de Cezar e Círus. O público dança, agita os braços, canta, emociona-se e enternece o cantor popular que eles tanto adoram. Waldick retribui com seu charme e todo o firme poderio de uma voz que entoa as canções que marcaram uma época. A participação de Cláudia Barroso, em “Você Mudou Demais”, é demais de bom! Waldick cantando as suas “A Saudade que Você Deixou Aqui”, com o acordeom embalando, “Dama de Vermelho”, “Eu Também Sou Gente”, “Eu Não Sou Cachorro Não”, revelam um cantor/compositor no auge de sua plenitude e revelam o porquê de ele ser tão amado. Waldick Soriano cria boleros e os dá a seu público num tal estado bruto de realidade e firmeza poética, que resta ao ouvinte se curvar ao talento deste memorável artista e gritar a plenos pulmões, como fazem os que o idolatram: “Waldique! Waldique! Waldique!”.Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4