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Um cantor pronto para alçar grandes voos


De cara, “Viagem de Ida e Volta”, samba inédito de Ruy Quaresma, Aldir Blanc e Paulo Emílio. A flauta de Dirceu Leite se junta ao baixo de João Faria, ao piano de Fernando Merlino, à bateria de Jurim Moreira, à percussão de Pretinho da Serrinha e ao violão de Quaresma (arranjador da faixa) para a introdução... eis que chega uma voz com timbre pleno de requintes, fiel às notas, doce como fruta madura, absolutamente amorosa, redondamente cativante.

Voz que segue seu curso distribuindo doses generosas do mais puro acariciamento. Chico tem o talento e o carisma de um grande cantor, e, penso, está pronto para suceder dois gigantes: Jamelão e Altemar Dutra.Pode ser viagem minha, e talvez até seja mesmo, pois a voz de Chico não é igual, sequer parecida com a dos mestres.

Mas tem a vivacidade que emanava da voz de Jamelão, a mesma força sedutora; o mesmo jeito de ser formidável como foi Altemar, o mesmo clarão com que ele iluminava o seu repertório sentimental. Daí...Por falar em emoção, foi com um nó na garganta que ouvi o clarone de Dirceu Leite na introdução de “Sinhá” (Chico Buarque e João Bosco).

Com arranjo de Luis Claudio Ramos – que usou uma cadência mais lenta do que a da gravação original dos autores – o suingue malemolente supria o ar. Meu Deus! Mas o nó na garganta apertou ainda mais quando o cantor terminou sua interpretação improvisando vocalises, enquanto o coro repetia o refrão sem letra da música.

Assim, Chico Faria, fazendo jus à beleza da composição, dava-se por inteiro. Aliás, dar-se por inteiro a cada música é um de seus dons. “Puro Ouro” (Joyce Moreno), arranjada por Fernando Merlino, tem introdução com flautas (Dirceu Leite) e intermezzo de piano do próprio Merlino. Chico e Joyce dividem o canto. Um belo cantar a duas vozes leva ao final.

Outra inédita, com arranjo de Quaresma, é “Bem Assombrada” (Guinga e Thiago Amud). Junto com o piano (Merlino), o acordeom de Gilson Peranzzetta abre a música. A melodia e a harmonia de Guinga têm ali registradas a sua marca de qualidade.

E os agudos de Chico chegam certeiros a cada nota – claro, sendo ele filho de Cynara, do Quarteto em Cy, e de Ruy Faria, ex-MPB4. Com arranjo de Henrique Garcia, “Investida Fatal” (Dona Ivone Lara, André Lara e Bruno Castro) não poderia ser melhor escolha para fechar o álbum.

A flauta, o sete cordas de Diogo Cunha, a bateria e a percussão acrescentam fulgor ao desempenho de Faria.

Por ter na voz o romantismo de um samba em tom menor, o amor de um samba-choro deslavadamente emotivo e a jovialidade de um vencedor, Chico Faria está pronto para voar e, quem sabe, assumir o posto vago desde que Altemar Dutra e Jamelão se foram.

Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4