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Um brinde ao bom gosto


São doze canções, divididas em quatro blocos de três, sempre repetindo a sequência: primeiro Edu, depois Dori e, logo após, Marcos – a seguir... novamente.

Edu escolheu uma música de Dori para abrir os trabalhos: "Na Ribeira Deste Rio" (Dori Caymmi e Fernando Pessoa). Com arranjo de Cristovão Bastos, ele que na intro tocou piano (dedilhado e em acordes), num duo com o violão (Lula Galvão). Edu inicia o canto (ele é um bom cantor).
O intermezzo é do trompete (Jessé Sadoc). Logo o trompete toca junto com um dos dois saxes alto (Mauro Senise ou Idriss Boudrioua). Volta o canto. O baixo (Jorge Helder) marca enquanto a batera (Jurim Moreira) soa bonita. Juntos, trompete e sax indicam que o final já vem.

Dori Caymmi preferiu cantar "Bloco do Eu Sozinho" (Marcos Valle e Ruy Guerra). Com arranjo e violão do próprio Dori, a música inicia com um naipe de sopros (duas flautas (Danilo Sinna e Mauro Senise) e dois saxes (Marcelo Martins e Idriss Boudrioua). A voz encorpada de Dori soa doce. Logo o naipe volta. O piano (Cristovão Bastos) pontifica; o violão acompanha; sopros e voz seguem firmes.

E Marcos Valle preferiu "Saveiros" (Dori Caymmi e Nelson Motta). O próprio Marcos escreveu o arranjo. Na intro, ele toca piano e Lula Galvão, violão. Sua voz suave ganha reforço no arranjo de Jessé Sadoc para os sopros – ele que ainda tocou flugelhorn. No intermezzo, as flautas solam num belo fraseado. Assim, pela voz e o piano de Marcos, a harmonia de Dori ganha ainda mais beleza. Meu Deus!
Dori Caymmi fez o arranjo e cantou "Na Ilha de Lia no Barco de Rosa" (Edu Lobo e Chico Buarque). Somados ao violão de Dori, quatro cellos (Hugo Pilger, Marcio Malard, Mateus Ceccato e Marcus Ribeiro) tocam a intro. Com voz grave, Dori volta a cantar bonito. Um duo do violão com a batera tem início com uma riscada da baqueta no prato. Com os cellos, o violão baliza o final.

Mas esse tipo de CD compartilhado – ouro de mina do qual se valem compositores, instrumentistas e cantores para arejar suas carreiras – costuma ser como o cometa Halley: lindo, mas (quase) impossível tornar a vê-lo. Daí o acerto de reunir, ainda que por prazo limitado, duplas e trios de nomes consagrados ou não.

Mas a tal união é passageira? Ora, ainda assim, todos adoram arrebatar-se com ela. Mas os que hoje se revigoram no encontro têm mil e um compromissos, o que torna, se não impossível, muito difícil a longevidade da parceria – que faz bem tanto aos que se ajuntam quanto a quem os ouve.

Oh, indispensável leitora, necessário leitor, se não estiverem ligados, babau, já foi. Tem de ser tipo é hoje só, amanhã não tem mais.

Por ora, busque ouvir com carinho Edu, Dori & Marcos. E olho nos jornais, vai que pinta um show de lançamento...

Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4