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Toda a delicadeza de Cartola cintila na voz de Cida Moreira


Angenor, simplesmente assim, é o nome do álbum lançado pela Lua Music e que traz 16 das canções que marcaram a trajetória deste compositor que a Estação Primeira de Mangueira deu ao Brasil.A escolha do repertório é de extrema felicidade. Ao cantar sucessos como "Alvorada" (Cartola, Hermínio Bello de Carvalho e Carlos Cachaça), "Sim" (Cartola e Oswaldo Martins), ou "Cordas de Aço", "Acontece" e "O Mundo É Um Moinho", as três só dele, Cida Moreira nos conduz a alegres lembranças passadas, nas quais cada uma dessas músicas teve e tem sabor diferenciado. Mas, para o bem do trabalho gravado, o conjunto de canções do CD não se restringe ao reconhecido como cartão de visitas de Cartola. Vai além. Traz outras músicas pouco conhecidas ou quase desconhecidas do público. Ao fazê-lo, Cida permite que viajemos pelo mundo musical que Cartola criou e nele se instalou para de lá lançar-nos prazeres musicais excepcionais. Em "Feriado na Roça", canção de melodia e harmonia simples, com versos trágicos; "Nós Dois", com harmonia e melodia mais rebuscadas; "Sala de Recepção", samba em homenagem à Mangueira, naquele seu velho e bom jeito de compor; e "Autonomia", acompanhado apenas do piano e do violão, Cida demonstra o acerto de buscar momentos de Cartola dos quais o grande público pouco ouviu falar.A voz desta mulher, ela que canta como se sempre interpretasse um texto de musical densidade dramática, se presta à perfeição para exibir Cartola. Poucas outras poderão fazê-lo como fez Cida em Angenor, disco que já é referência para os que quiserem se aprofundar na música de Cartola. Os arranjos têm rara envergadura. Baseados em violão (Camillo Carrara e Omar Campos), piano (Keco Brandão) e contrabaixo (Renato Loyola), têm também clarinete (Chiquinho de Almeida), trombone (Passarinho), percussão (Adriano Busko), flauta (Toninho Carrasqueira), cello (Mario Manga) e viola caipira (Omar Campos), e traduzem absolutamente todo o feitiço musical de Cartola.Comovente é a sua leitura de "O Mundo É Um Moinho". Importando-se mais em "falar" os versos, até deixando propositalmente a melodia em segundo plano, Cida demonstra coragem, o que, junto a seus tantos outros atributos, capacita-a ser uma das grandes intérpretes de Cartola.Cida Moreira, para além de parecer nascida para cantar o mestre, vive um momento de rara grandeza vocal. Seus falsetes vêm íntegros, suas divisões rítmicas saem leves como as melodias de Cartola e sua afinação rima com a dramaticidade dada a cada verso. Assim, feita para a música, a "cantriz" reverencia Angenor de Oliveira, dando o seu máximo a ele e aos que a escutam. Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4