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Tempo de nutrir o corpo e a consciência


E já que o ano novo trará mudanças prováveis, bom seria encarar um novo estilo de vida, como propõe Marise Berg em O céu da boca – Guia de nutrição para o corpo e a consciência (Europa, R$ 99,90). Além de atiçar o paladar do mais renitente carnívoro com fotografias maravilhosas de pratos veganos, Marise parte de sua experiência iniciada aos 30 anos, quando, executiva de uma grande empresa de entretenimento, mudou-se do Rio para São Paulo. Diante do estresse da nova função buscou um caminho distante de comida industrializada, refrigerante e micro-ondas. Tornou-se vegetariana, adotou a prática budista, fez meditação e ioga. Depois, aprendeu a cozinhar, especializando-se em nutrição com base na ayuverda (medicina indiana).  Daí nasceu o livro que traz, além de 108 receitas veganas, noções sobre nutrição e recomendações para uma alimentação menos artificial, visando ao bem-estar e à  longevidade.  

Para fortalecer o espírito sob estado de sítio, um grupo de amigos esquece a dureza da vida em guerra ao criar um clube de livros na Ilha de Guernsey, no Canal da Mancha, um dos poucos territórios britânicos onde houve domínio nazista durante a Segunda Guerra Mundial.  A sociedade literária e a torta de casca de batata (Rocco, R$ 38,90) de  Mary Ann Shaffer e Annie Barrows, recorda o traumático período para a população local que só terminou com a rendição alemã, em maio de 1945. Um fictício envolvimento romântico entre um oficial e uma moradora é o eixo condutor dessa deliciosa narrativa, que gerou uma adaptação cinematográfica igualmente saborosa, produzida pela Netflix.  

Sorrisos surgem a cada página de Bagageiro (José Olympio, R$  34,90), de Marcelino Freire, que junta alguns de seus  “ensaios de ficção” –  contos, observações sobre erotismo, criação e literatura, sem classificação definida, mas que, lado a lado, formam uma narrativa coesa. O título vem do que se joga em cima do bagageiro de uma bicicleta – mercadoria, botijão de gás, criança. E ali está o principal produto do escritor,  pensar a literatura, propondo brincadeiras que agradarão a amantes de livros. A dureza da vida, que  surge, repentinamente, dolorosa como a realidade brotando de um noticiário policial, pontuando a ironia, o pensamento sarcástico com a crueldade da existência brasileira. Apresentado sem pretensão de obra literária “séria”, Bagageiro tira o fôlego do leitor e, convocando para  a reflexão sobre o texto e o que se estabelece fora do livro.

Sem o menor compromisso com a seriedade, 79 filmes para assistir enquanto dirige (Galera Record, R$ 37,90) foi criado pela equipe do Choque de Cultura para provocar gargalhadas. A análise dos filmes é a mais pueril possível, dentro do espírito caustico característico do “programa sobre cultura que reúne os maiores nomes do transporte alternativo”. Os personagens Maurílio, Julinho, Rogerinho do Ingá e Renan, motoristas de vans, assistem até a cinema “antigo, da época que não tinha efeito especial e os atores precisavam interpretar de verdade”. A seleção cinematográfica não se restringe ao gênero de ação e aventura, mas aborda principalmente os que agradam ao público masculino – filmes com pancadaria, colisões e muitos carros, como a série Velozes e furiosos, e a programação básica do que é veiculado pela TV aberta. Quase um estudo antropológico da cultura machista brasileira. Divertidíssimo.