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Sua excelência o saxofone


Com arranjos do próprio Leo e de Henrique Cazes, os grandes mestres têm seus trabalhos interpretados por instrumentos e instrumentistas de alta linhagem – mas quem brilha mesmo é o saxofone. Residindo nele a força de cada criação, nada mais justo, portanto, que ele protagonize. Leo Galdelman se entrega a soprar seus saxes como quem faz do sopro vida, música, história.

Ao ouvi-lo, percebe-se que o álbum é rastreamento do som do saxofone brasileiro desde o início do século passado. Didático, sem se preocupar com cronologia nem estilo, suas treze faixas mesclam o choro ao frevo e ao choro-canção. Tudo sempre exalando modernidades harmônicas e interpretativas – novos horizontes a músicas (algumas) quase seculares.

“Saxofone Porque Choras” (Ratinho) tem Leo Gandelman tocando sozinho um naipe de saxes: tenor, alto e barítono. E é este último quem sola a melodia. A bateria (Rafael Barata) segura o ritmo. O cavaquinho (Henrique Cazes) dá o molho brasileiro. O CD começa quente.

“Perplexo” (K-Ximbinho) tem Leo no sax tenor. O acordeom (Marcelo Caldi) toca a introdução. O tenor logo chega com o violão (Lula Galvão) e o baixo (Alberto Continentino). O cavaquinho e a bateria a todos amparam e aos ouvintes não desprotegem.

“Vamos para Caxangá” (Ratinho) tem Leo e Serginho Trombone num bom diálogo musical: Leo no sax alto e Serginho no trombone eufônio (uma espécie de tuba pequena, cujo som mais se assemelha a esta do que ao sax). O violão de sete cordas (Rogério Caetano) dá show.

Uma entusiástica interpretação de “Espinha de Bacalhau” (Severino Araujo) ganha ainda mais sabor depois que se lê no encarte o que escreve Henrique Cazes sobre o choro famoso: Severino o compôs com a intenção de “responder” a um choro complicado, composto por um colega integrante da Orquestra Tabajara. Polêmica benfazeja. Aplauso em audição aberta.

Em “Amphibious” (Moacir Santos), Leo, no sax barítono, inicia a música só com a bateria. Com seu sopro sólido, ele contribui para tornar a composição ainda mais requintada.

“Cara Lisa” (Duda) tem arranjo para saxes feito pelo mastro Spok. Ele e Leo alternam-se, cabendo ao primeiro solar no barítono e o segundo, no alto. O frevo é quente, dá vontade de cair no passo. Porém resisto. Ouvir Ventos do Norte se impõe a qualquer tipo de desatenção.

Leo Gandelman tem o saxofone como missão de vida. Faz dele um companheiro de emoções. Nele refaz energias, o coração pulsa, a alma sorri.

Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4