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São Mateus, terra igual essa não há


Para levar adiante a idéia de reunir aproximadamente 40 integrantes da comunidade, surgiu a liderança dos três irmãos Pessoa, Éverson, Victor e Yvison. Nascidos em São Mateus, são integrantes do Quinteto em Branco e Preto, que conta também com os irmãos Maurílio de Oliveira e Magnú Sousá, moradores na região de Santo Amaro e participantes da comunidade Samba da Vela.Orgulhosos da roda de samba, que há mais de 15 anos anima a comunidade do bairro, os Pessoa se lançaram à luta para fazer com que o samba que nasce nas madrugadas de São Mateus ganhasse o Brasil, que merece ouvi-lo para se certificar de que nem tudo está perdido. E eles encontraram guarita no Sesc de São Paulo que não costuma negar fogo às iniciativas de levar à frente a música feita por gente que nunca pediu nada a ninguém; por gente que continuaria a fazê-la mesmo que nunca ninguém de fora dos limites do bairro em que vivem pudessem um dia escutá-la. Gente que, ainda assim, quando uma porta se abre, adentra sem cerimônia pela sala a demonstrar o que lhe é mais precioso: a música que cria para ser feliz. Apenas tudo isso.Amador do que cria, do que canta e do que toca, assim é o povo de São Mateus. Moçada que não se cansa de afirmar que “terra igual essa não há” – verso que está em três dos 29 sambas que compõem o repertório do álbum dividido em 16 faixas. Algumas delas reunindo seqüências de três ou de dois sambas cada. E tem ainda as participações de Beth Carvalho e Almir Guineto.Os participantes do Berço do Samba de São Mateus se revezam como se estivessem na roda de samba nos quintais das tias do bairro. São deles os instrumentos que dão molho às composições que nos oferecem. O cavaco, o banjo e os violões se alternam na incumbência de dar o tom e levar a melodia para onde querem, permitindo que as vozes cantem a plenos pulmões o amor que têm pelo samba e por São Mateus.Éverson Pessoa é o mestre de cerimônia. E cantam Tocão, neto do cantor Blecaute, e Timaia, criador do famoso caldo de mocotó servido em seu boteco. E também Milbé, Ronny, Sandoval, Marquinhos Pavão, Jarrão, Casca, Tobé, Magnu Sousa, Tia Cida, a mãe de Tocão, Luiz Lira, Leandro Matos, Thiago Silva, Dulce Monteiro, Rubão das Mulheres e Francisco Silva. Todos cantam sambas criados por eles próprios e também por Gerson da Banda, Vitor Pessoa, Nino Miau, Maurílio Oliveira, China, Babú, Edson Paixão, Marcelo da 12, Rato da Tubiacanga, Neguinho da Tubiacanga, Lindomar, Hildo, Almir Guineto e Edvaldo Galdino. Os bons sambas são quentes, animados pelos Tamborins de São Mateus (que naipe, meu Deus!). E o ritmo do disco se faz ainda mais contagiante com a Orquestra de Samba e o Choro de São Mateus. Tudo ali é fruto nascido no bairro. Mas há que se aplaudir a disposição que tem Beth Carvalho em descobrir e revelar novos “quintais” onde rola música de primeira linha. Madrinha de fé do samba, reconhecida unanimemente como tal por compositores anônimos que por meio de sua voz e da sua força puderam brilhar nacionalmente, Beth é personagem fundamental na história do samba brasileiro. Ela vai onde o samba fervilha em rodas que poucos conhecem o endereço. À Beth, madrinha do Quinteto em Branco e Preto, o afago de uma batida forte do surdo de marcação que dá ao samba a cara da nação brasileira.Que Deus abençoe São Mateus!Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4 e autor de O Gogó de Aquiles, ed. A Girafa. Seus textos são publicados semanalmente no Acontece na  no Diário do Comércio (ACSP), Meio Norte (Teresina), A Gazeta (Cuiabá), Jornal da Cidade (Poços de Caldas) e Brazilian Voice (EUA). No rádio, sempre às segundas-feiras, das 15h às 16h, "O Gogo de Aquiles" vai muito bem, obrigado. Você poderá escutá-lo (no Rio de Janeiro) sintonizando diretamente na Rádio Roquete Pinto, ou (fora do Rio) na internet: www.fm94.rj.gov.br .