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Reinventando Nazareth


Para concretizar tal empreitada, Antonio selecionou nove peças do mestre do choro e compôs um tema em sua homenagem. Dez músicas para, mais uma vez, demonstrar o que sempre foi e continua sendo a disposição primeira desse nosso grande pianista: revelar afinidades do samba e do choro brasileiros com o jazz norte-americano, demonstrando a similaridade entre o som que nos caracteriza e o que se faz lá fora. E ele faz isso como ninguém.

Para a gravação, Antonio Adolfo criou os arranjos e selecionou um belo time de instrumentistas: além do seu piano, lá estão a guitarra e o banjo do americano Claudio Spiewak, o contrabaixo acústico de Jorge Helder, a flauta e o sax soprano de Marcelo Martins, a bateria de Rafael Barata e a percussão de Marcos Suzano. Carecas de tocar arranjos escritos por Antonio, a moçada, como sempre, deita e rola. Improvisos, solos e duos são ouvidos numa sucessão que empolga quem os ouve tocar.

A primeira faixa é justamente a composição de Antonio que dá título ao disco: “Rio, Choro, Jazz”. O piano deixa sua marca e a veia composicional de Antonio Adolfo brota vigorosa.

“Feitiço” inicia a série de composições de Nazareth. Seguido pelo pandeiro, o piano começa suave, com a mão direita tocando a melodia e a esquerda tocando os baixos dos acordes. Surge a flauta. A bateria marca o ritmo para o brilho da guitarra se apresentar. O piano volta. A flauta improvisa. Uma ralentada indica que o final está próximo.

“Brejeiro” tem o piano tocando a melodia, enquanto a percussão o acompanha. Juntos vêm o baixo e a guitarra. A flauta sola a melodia e logo a entrega ao piano. A bateria acentua a marcação nos tambores. A guitarra sola e improvisa, enquanto, na sequência, o piano e a flauta revezam-se no improviso. A guitarra se junta ao piano na melodia... a flauta improvisa. Fim.

“Fon-Fon”. Piano e cuíca iniciam. Este choro é o que mais assume a cara jazzística pretendida por Antonio. O efeito, como de resto resultam todas as nove composições de Nazareth, é esplêndido.

“Tenebroso” começa e termina com uma levada absolutamente diferente daquela pensada por Nazareth. A inventividade de Antonio não tem limite.
O maior exemplo disso é o que ele faz com “Não Caio Noutra”. Ao transformar o choro num autêntico ragtime norte-americano, além de demonstrar a universalidade de Ernesto Nazareth, Adolfo cria um clima da mais auspiciosa naturalidade musical sem fronteiras.

O conhecido chorinho “Odeon” fecha a tampa. O piano, em duo com a flauta, toca a melodia. O baixo e a bateria garantem o suingue. O piano improvisa. A bateria trisca levemente no prato. Piano e flauta retomam o duo. O piano segue em frente... Meu Deus!


Antonio Adolfo tocando Ernesto Nazareth tinha tudo para dar certo, e deu. Um cedezaço!