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Registros políticos e culturais


O desconhecimento sobre a obra de Svetlana ou de Marlon mostra que o planeta ultrapassa as dimensões diminutas do circuito cultural Rio-São Paulo, pautado pelo que vem de Nova York-Londres-Paris. O mercado editorial brasileiro começou a ficar interessante para o resto do mundo há pouquíssimo tempo – e dizem as cassandras de plantão que a boa fase já se acabou. Assim, para saber um pouco sobre esses escritores pouco divulgados nesses quentíssimos trópicos, só se você for um interessado em literatura ou um grande leitor de jornais internacionais.  Um exercício de paciência pré-Internet. 

Enquanto Svetlana e Marlon não chegam a nós, eu folheio o Dicionário da História Social do Samba (Civilização Brasileira, R$ 55), assinado pelos bambas Nei Lopes e Luiz Antonio Simas. Os verbetes não se limitam a informações sobre ritmos, instrumentos e manifestações que os integram, mas também a elementos que fazem parte do universo sambista, como “cabrocha”, “cachaça”, “requebrado”.  O último relacionado é “ziriguidum”, explicado como onomatopeia de batucada, que acabou se transformando em sinônimo da folia. E ziriguidum é o que não falta ao texto, que traz a história do Brasil, não apenas em termos musicais, mas nas conjunções políticas traduzidas em canto e dança dos povos. 

O espírito brasileiro pode ser decodificado pelo apreço à festa e à música. Já o dos franceses se explica através do ímpeto revolucionário. Em 1871, milhares de parisienses, pressionados pela fome e péssimas condições de vida na capital da França, criam um território livre e libertário, deixando de reconhecer as leis francesas. Massacre – The life and death of the Paris Comune, do historiador americano John Merriman, chega ao Brasil com o sóbrio título de A Comuna de Paris (Rocco, R$ 59,90). Um estudo interessantíssimo, principalmente quando percebemos que, até hoje, as cidades expulsam para as periferias a população pobre, vista como mera serviçal das classes privilegiadas. 

Transformações socioculturais bem mais recentes estão em A Guerra dos Consoles (Intrínseca, 59,90), de Blake J. Harris, que conta de forma divertidíssima a disputa entre as gigantes fabricantes de videogames Sega e Nintendo, nos anos 1990. À frente da rivalidade, executivos especializados em vender brinquedos para adultos. Um dos mais interessantes livros de negócios, contado como tanto sarcasmo e ironia que garante uma boa leitura até para os menos aficionados pelo gênero.