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Quando a distância une


Para tanto, deu seu jeito de retomar a parceria com Lula Moreno (que viajou para Portugal, em 1990), com quem dividiu espaço nos palcos da noite carioca. Ora criando melodias, ora fazendo versos para diversos parceiros, ora compondo música e letra, Sergio descobriu caminhos por onde levar a vida e a música. Selecionando três músicas só dele, cinco em parceria com Lula, três com Luiz Fernando Gonçalves e uma com o baixista português Markus Britto, Sergio Coelho e Lula Moreno optaram por produzir um CD que realizasse os versos de Rui Guerra em “Fado Tropical”: “Ai esta terra ainda vai cumprir seu ideal, ainda vai tornar-se um imenso Portugal”. Dito e feito.O título do disco reflete o jeito encontrado para que os dois músicos, amigos e parceiros pudessem cuidar juntos do processo de gravação do repertório. A internet os reuniu: os arquivos digitais iam e vinham, enquanto a música se fazia calorosa, mesmo à distância, ou por causa dela. Valer-se de idas (De Cá...) e vindas (de Lá...), consistiu a proeza de dar vida a sons de ultramar criados por Sergio Coelho e seus parceiros.Para cantá-los, Sergio se vale de sua voz agradável e afinada e da participação de músicos de lá: Tércio Borges (bandolim), Flávio Martins (tecladista), Gustavo Roriz e Jonas Cruz (contrabaixo) e Felipe Lucas (guitarra portuguesa); e de cá: Paulinho Athayde (violão e bandolim), Tadeu Campany (percussão), Andréa Millan (vocais), Alfredo Galhões (piano), Zé Luiz Maia e Marcelo Mariano (contrabaixo), e Mario P C (flautas).As três músicas só de Sergio têm o mérito de serem as mais consistentes e redondas do CD. Assim é com “Bendita Paixão”, samba com refrão singelo, clara lembrança dos que fez Dorival Caymmi, no qual violão e cavaquinho se somam a um trio vocal. Show de bola. Ou ainda “Por Ora”, com levada suingada do baixo de Zé Luiz e as flautas de Mario. Mas nem só da consistência das músicas de Sergio vive o disco. Em “Por Um Falso Amor” (Sergio e Luiz Fernando Gonçalves), apenas o violão de Paulinho Athayde acompanha o canto de Sergio Coelho. Bom.“Sabe-se Lá” (Lula Moreno e Sergio) é samba dos bons (com direito a percussão, cavaquinho e violão), cuja letra descreve a cena num pagode, quando um “moleque atrevido” se engraça com a mulher do dono do morro. Do meio para o final, a tragédia é relatada com versos declamados. Para finalizar, “De Lá e De Cá” (Lula Moreno, Sergio e Luiz Fernando Gonçalves). Enquanto a guitarra portuguesa chora, Sergio e Lula dividem o canto e multiplicam o afeto mútuo, numa ode à amizade e ao reencontro dos que têm um oceano de distância a separar e, ao mesmo tempo, aproximar.Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4