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Para gostar de ler


 

Sim, o brasileiro lê pouco e não compreende a leitura como uma forma de diversão. Criou-se um mito em torno do hábito de ler, como se ele fosse um instrumento facilitador de estudos.  

Também se vê o prazer de ler como um traço de caráter. Precisamos desmistificar a leitura e vê-la além de uma forma de distinção, com poucos benefícios socialmente perceptíveis, entre eles a extensão do vocabulário e o exercício da compreensão. 

Contrariamente a todos os educadores, acho que ler tem muito pouco a ver com educação. É um hábito que se aprende em casa, quando a criança tem gente disposta a ler histórias para ela. Há poucas iniciativas que valorizem a importância de pais, babás e irmãos como quem vai disseminar o hábito entre os jovens leitores. O professor é visto como o principal agente de incentivo à leitura. Sempre fui uma leitora ávida, uma aluna medíocre e não me recordo de um só professor que tenha me apresentado algum título ou autor interessante.  

Ao longo dos últimos anos, observei uma mudança no comportamento do leitor. A leitura “imatura”, ou seja, de entretenimento puro, começou a ganhar relevo e seus autores têm destaque em noticiário “nobre”. Há alguma resistência à produção de John Green, que está no Brasil para o lançamento do filme baseado em seu Cidades de Papel (Intrínseca, R$ 34,90). 

Green é um dos escritores que forma um novo público leitor, com narrativas em que distribui igualmente a euforia e a melancolia típicas da adolescência. Desde o boom de Harry Potter, a literatura para adolescentes conquistou o respeito editorial, embora ainda seja desprezada pela crítica especializada. Esses jovens não têm ainda a sofisticação e o treinamento de atenção necessários para mergulhar na densidade de A ilha misteriosa (Zahar, R$ 69,90), de Jules Verne, último lançamento da coleção Clássicos Zahar. Para chegar ao universo distópico de Verne, eles precisam ser inoculados com o vírus do amor à leitura.

Essa contaminação virótica vem sendo feita pelos poetas Elisa Morenno e João Pedro Fagerlande, que, em 2014, levaram um projeto de iniciação ao conhecimento da poesia a escolas municipais do Rio de Janeiro. A partir de agosto deste ano, o projeto Grandes Poetas Brasileiros percorre algumas bibliotecas da cidade, com aulas-espetáculo para jovens de 12 a 14 anos sobre Carlos Drummond de Andrade, Ferreira Gullar, Cecília Meirelles e Vinícius de Moraes. Depois de falarem sobre a vida dos poetas e a ligação deles com a cidade do Rio de Janeiro, Elisa e João Pedro fazem oficinas de produção poética com os adolescentes, que percebem a inserção da poesia na vida contemporânea por diversas manifestações artísticas, entre elas o rap.