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Ótimo compositor e violonista, Jards Macalé lança CD


Hoje, Macalé demonstra claramente que se apossou de uma faixa exclusiva, que estava aí dando sopa, e a ocupou galhardamente. Faixa esta que não é MPB nem é samba; não é da baianidade nem da carioquice; não é pop moderninha nem xiita petrificada. É a faixa Macalé.A música faz parte de sua história. Neste seu terceiro trabalho, Macao (apelido pelo qual ele é chamado por seus amigos), CD lançado pela Biscoito Fino, ele nos traz, como sempre, seu belo violão. É, mas ainda tem muito mais, belas parcerias que hoje põe o compositor à frente do instrumentista. E isso não é pouco, não. Dentre as músicas que gravou está "Farinha do Desprezo, com Capinan, já gravada por ele em seu primeiro álbum. E tem "Boneca Semiótica", com Rogério Duarte, Chacal e Duda; têm as inéditas "O Engenho de Dentro", com Abel Silva, "Se Você Quiser", com Xico Chaves; e "Balada", com Ana de Hollanda, que canta junto com ele; e também "The Archaic Lonely Star Blues", parceria com Duda e lançada por Gal Costa em 1970.Todas as músicas escolhidas são interpretadas por Macalé de um jeito que é só dele - goste-se ou não desse jeito, pode-se dele dizer tudo, menos negar-lhes ousadia e criatividade -, caso de "Ne Me Quitte Pas" (Jacques Brel), versão emocionada, que tem apenas o piano de Cristóvão Bastos a acompanhá-lo. Cristóvão que divide alguns dos bons arranjos com Macalé (autor da maioria deles), principalmente os que contam com uma formação instrumental maior e mais variada.Tem também "Um Favor", a lindíssima música de Lupicínio Rodrigues; a ótima "Só Assumo Só", de Luis Melodia; e o hit "Corcovado" (Tom Jobim), nas quais se ouvem apenas a voz e o violão de Macalé. E tem "Ronda", sucesso de Paulo Vanzolini, numa homenagem de Macalé à cidade de São Paulo, que tem arranjo de Moacir Luz e conta com Luiz Fernando Zamith no cello e Carlinhos Sete Cordas no violão de sete.Os arranjos de Cristóvão Bastos contam com alguns dos melhores músicos da atual cena instrumental brasileira: Carlos Balla e Jurim Moreira, bateria; Rômulo Gomes, baixo; Dirceu Leite, flauta; Ricardo Pontes, sax; João Lyra, violão; Alceu Maia, cavaquinho; e Ovídio Brito e Don Chacal, percussão. O som deles que se ouve em Macao é fruto de uma boa mixagem que realça os sons graves e merece aplausos ao permitir que flua leve a intenção primeira de Jards Macalé: dar vez por igual ao teclado, às programações, ao prato, ao garfo, ao mix e ao sampler de que se valem Daniel Castanheira, Ericson Pires e Ricardo Cute, do Laptop&Violão, sem esquecer do piano, do cello, da flauta, do sax, da percussão...  Macalé tem uma voz estranha, embargada, meio embriagada. Intensa, ela se assenta melhor em músicas que fogem do senso comum, e caso elas não tenham, digamos, nascido assim, Macalé logo trata de lhes emprestar o tom de estranheza que lhe é tão caro e lhe dá personalidade artística. Aí reside o principal recurso de Macao, CD dado ao público pelo compositor Jards Macalé. E é assim, como que para compensar seus magros recursos vocais, que ele sempre busca trazer para sua praia músicas cuja estrutura melódica e harmônica tenham tradicionalidade. Daí arranja-as a seu jeito e, logo em seguida, as canta instigando o ouvinte a ouvi-la como uma experimentação vocal. Consegue! É através desse exercício que o cantor consegue que avancem para o futuro o grande violonista e o ótimo melodista e harmonizador que é Jards Macalé.Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4