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Os tesouros e a juventude


Aos poucos, me desfiz de boa parte da coleção, que se transformara em viveiros de ácaros, prontos a provocar crises alérgicas em quem se aventurasse a folhear algum. Os livros de Jack London e Raptado, de Robert Louis Stevenson (que prefiro à Ilha do Tesouro),  consegui comprar em edições mais recentes e, dois anos atrás, quando a Zahar relançou Tarzan, o filho das selvas (R$ 54,90), lamentei que outros títulos não estivessem de volta ao mercado. Embora se diga que a geração gerada em frente ao computador não sinta atração imediata por histórias de capa e espada, a saga Guerra nas Estrelas foi imaginada por George Lucas exatamente para suprir a ausência de uma literatura mostrando a luta do bem contra o mal.


Em Frenesi Polissilábico (Rocco, 33,90), Nick Hornby comenta que Charles Dickens não entrou para a história da literatura por seu purismo estilístico, mas, principalmente porque era um grande narrador. O domínio do público exercido pelos autores de folhetins acabou sendo transferido para os roteiros cinematográficos. As aventuras ainda fascinam diferentes gerações de leitores, mesmo as atuais, como comprova o sucesso da série de Harry Potter. Em 2005, a Record lançou a coleção Clássicos da Aventura, que só teve poucos volumes, entre eles Moonfleet – O tesouro do Barba Negra (Record, R$ 62,90), uma história de piratas engenhosa e hipnótica. Já a coleção Clássicos Zahar, que reúne escritores como Alexandre Dumas, Jules Verne, Jane Austen, Jack London, Edgar Ryce Burroughs, conseguiu com montar uma indispensável biblioteca com suas belíssimas edições ilustradas e comentadas, em formato tradicional e de bolso. Os últimos lançamentos são Histórias de Sherlock Holmes (Zahar, R$ 29,90), de Arthur Conan Doyle, e O ladrão de casaca –As primeiras aventuras de Arséne Lupin (R$ 29,90), de Maurice Leblanc. O irreverente gatuno é o contraponto francês à genialidade de Sherlock, que chegou a ser incluído como personagem em uma de suas histórias. Diante do indignado – e justo – protesto de Conan Doyle, Leblanc criou o Herlock Sholmes, um refinado investigador inglês, derrotado pela engenhosidade de Lupin.


Se os clássicos de aventura levam o adulto a experimentar o entusiasmo e encantamento da juventude, há livros infanto-juvenis que merecem a apreciação por um público mais maduro.

O goleiro dos Andes (Galerinha Record, R$ 49,90), de Antonio Skármeta pode e deve ser lido por crianças, desde que concordem em dividi-lo com leitores mais idosos, capazes de perceber a melancolia e a dimensão social de um conto que fala de amizade, de estranhamento, de saudade e de futebol.