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Os rapazes bossa nova


A tampa abre com “Samba do Carioca” – uma das músicas do musical Pobre Menina Rica, de Carlos Lyra e Vinícius de Moraes –, que exorta o povo carioca a curtir o Rio de Janeiro. O samba vem suave, com arranjo de Lyra, que está ao violão, o piano de Valle e o baixo acústico de Jorge Helder, somados a sax e flauta de Dirceu Leite e ao trompete de Jessé Sadoc.

A intro abre caminho para Lyra solar a primeira estrofe. Arritmo, ele capricha na nota da primeira sílaba de “cana” –, acompanhado por flauta, baixo acústico, piano e violão. A seguir, ainda arritmo, amparado pelo trompete, Valle assume o solo. Logo os quatro cantam em uníssono e o samba ganha ritmo. O trompete segue com eles. Menescal sola o verso seguinte. Junto com a batera, o baixo arredonda a parada. O suingue é de arrepiar. O quarteto volta em uníssono, até entregá-lo pra Donato, que sola, tendo a flauta em belo desenho. Um breve intermezzo do trompete antecede a sequência do solo vocal de Donato. Em uníssono, os quatro ralentam e vão ao final.

Perdoem-me a analogia: a essa altura do campeonato, os rapazes bossa nova cantam com o prazer de quem faz amor. Saboreiam o ato prazeroso com a sabedoria adquirida na experiência sensual acumulada ao longo da vida. Sugando o ato sagrado – sem pressa nem sofreguidão –, com a sabedoria conquistada no conhecimento acumulado ao longo da vida. Dando o melhor de si, desbravando as belezas do corpo e da poesia, amalgamados num só e ardente desejo de se dar e de se (en)cantar. Isso é bossa nova!

Saca só algumas músicas que vêm a seguir: “Tereza da Praia” (Tom Jobim e Billy Blanco), aquela do famoso diálogo, que hoje rola entre Menescal e Donato, “(...) Arranjei novo amor no Leblon/ Que corpo bonito (...)”.

“Gente” (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle”), quem não se lembra dos versos: “Gente que entende/ Que não deve dar/ Por que nunca na vida/ Sofreu por não ter (...)”? E de “Vagamente” (Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli), eternizada na voz de Wanda Sá?

E tem o esperto “Balansamba” (Menescal e Bôscoli): “Balança com jeito/ Balança no olhar (...)”, e “Até quem Sabe” (João Donato e Lysias Enio): “Até um dia, até talvez/ Até quem sabe (...). Até que a tampa fecha com “Sambeando” (Menescal e Carlos Lyra), cuja letra bem sintetiza a união dos quatro bambas: “A gente faz o samba como a gente quer/ O samba mexe com meu coração (...)”.

E assim, quando de forma inédita os quatro rapazes bossa nova se ajuntam, a música flui como fluem o amor, o sorriso e a flor: exalando belezas.

Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4