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O violão superlativo de Rogerinho


E aqui está o craque que vem se ajuntar a outros que já imprimiram suas digitais na história do violão brasileiro. Discípulo de Dino Sete Cordas e de Raphael Rabelo, Rogerinho segue os passos dos mestres que o encantaram desde que tinha seis anos de vida, ele que nasceu em Goiânia, em 1977.Num álbum enxuto, econômico em sons, feito de sonoridades aprimoradas num violão de sete cordas de nylon, Rogério Caetano, com sua técnica refinada, toca só composições suas. Mãos ágeis, leves. Sensibilidade para fazer do simples algo profundo. Sensível ao expor emoção em acordes bem burilados. Clareza sonora para dar às melodias o sentido exato do sentimento Limpidez de um virtuoso que não se deixa levar pela aparente eficácia da técnica da velocidade. Não que Rogerinho não se valha do recurso de dedilhar inúmeras notas em poucos compassos, ao contrário – assim é em muitos momentos de suas composições –, mas o faz com delicadeza impressionante. E daí vem o alumbramento.Muitas vezes, a rapidez no dedilhar das notas pode ser sinônimo de afoiteza. Principalmente se tocadas de maneira que os dedos desandem em inimigos da perfeição, justamente quando tudo tende a levá-los à quase certeza de tê-la achado. A clareza do som, que resulta de uma performance superlativa, demonstra que o violonista trata seu instrumento como se fosse um irmão de fé, alguém capaz de lhe apontar rumos e prumos, prudências e cautelas. Mas o grande instrumentista sabe que conselhos, por mais bem intencionados, lhes devem servir apenas como base para se lançar em rumos talvez opostos aos sugeridos. Ou para assimilá-los, rompê-los e aperfeiçoá-los: nunca para contê-los. A busca pela personalidade própria, algo tão difícil nos primeiros momentos de músicos iniciantes, ainda carentes de desmamar de seus ídolos e espelhos, deve ser o entreolho da mosca a ser atingido no alvo posto no futuro. E Rogerinho não desperdiça a ocasião. Morando durante um bom tempo em Brasília, ele tocou com grandes instrumentistas, que de lá saíram para o mundo. Feito Hamilton de Holanda, que, com seu bandolim de dez cordas, participa do álbum em “Brasília”. E tem outras grandes presenças, como a da flauta de Eduardo Neves em “Meu Mundo”, e também a do maestro Leandro Braga e seu piano em “Intuitiva”. Rogério Caetano (Fubá Music) é disco para se ouvir atento à sublevação musical proposta. As baixarias, tão marcantes no violão de sete cordas, se fazem ainda mais protagonistas em cada interpretação de Rogerinho. Onze faixas para ouvirmos as sete cordas de um instrumento que ali superam as melhores expectativas de quem já se acostumou a se deliciar cada vez que um samba ou um choro são tocados por músicos como Rogério Caetano.Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4