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O sexo e a fila


Uma leitura divertida até para quem não se interessa pelas proezas de um dos mais respeitados criadores em marketing, o livro é pródigo em alusões a empresas e figurões do mundo corporativo. O Brasil mereceu destaque em capítulo próprio, como outros países emergentes, pois a época ainda era de pujança sócio-econômica. Kotler se detém nas peculiaridades dos negócios brasileiros, mas não deixa de destacar o que salta aos olhos de visitantes de outros locais e com outras especificações profissionais, entre eles o Prêmio Nobel de Literatura 2010, Mario Vargas Llosa, que, no verbete sobre o Rio de Janeiro no Dicionário Amoroso da América Latina (Ediouro, R$ 59,90), mostra-se extasiado com a visão de foliões pouco vestidos, dançando, trocando carinhos e “quase fazendo amor”, sob o olhar indiferente dos que acompanham o cortejo dos blocos carnavalescos. “Serão fúteis todos os planos para controlar a libido dessa sociedade de demografia galopante que beira os 170 milhões de habitantes”, comentava Llosa, sobre uma de suas visitas à cidade, há cerca de quinze anos, concluindo que enquanto existir o carnaval carioca “a vida será melhor do que é normalmente, uma vida que, por alguns dias (…) toca os faustos do sonho e se mistura com as magias da ficção”. Já o jornalista Franz Wisner apontava em Como o mundo faz amor (Verus, R$ 34,50), que iniciara sua pesquisa sobre hábitos amorosos em diferentes partes do planeta pelo Brasil, país que, “com molejo e um olhar, nos chama e nos diz que, sim, o amor é possível”. Segundo Wisner, todas as regiões do mundo têm papeis definidos, simbolizados por “produtos”. A Suíça teria optado pelo chocolate, as Ilhas Cayman pela lavagem de dinheiro: “Já o Brasil escolheu o amor e a sexualidade. Agora me diga quem escolheu melhor", diz o jornalista, que se espanta com as contradições de um lugar onde todos se beijam em público, mas hotéis impedem a visita de mulheres aos quartos dos hóspedes estrangeiros.

Os próprios brasileiros pouco percebem dessa sexualidade exuberante que inebria os visitantes. Em Fila e democracia (Rocco, R$ 24,50), Roberto DaMatta e Alberto Junqueira fazem poucas menções a aproximações com intenções de flerte por quem se sente obrigado a se posicionar ordeiramente atrás de outras pessoas. “Muitos reconhecem que o brasileiro faz fila (...) por curiosidade ou para tirar vantagem de alguma situação (ficar atrás de uma mulher atraente, por exemplo)”. A impaciência brasileira ao entrar em fila corresponderia à realidade da hierarquia aristocrática de nossa sociedade. Esperar sua vez não é obrigação de todos num país em que todos têm como objetivo de vida estar em evidência e receber privilégios. Bastante realista, falta ao levantamento abordar apenas uma das brasilidades típicas da fila: a intimidade da conversa, as discussões filosóficas, políticas, futebolísticas e, naturalmente, os galanteios trocados entre os enfileirados.