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O romance do jornalismo


 

Ironicamente, a linguagem ficcional contemporânea deve muito ao estilo jornalístico, tendo, talvez, em Ernest Hemingway seu maior nome. Apesar da formação de repórter, Hemingway só prestigiou a classe com um protagonista, no romance que chamou a atenção para sua obra, O sol também se levanta (Bertrand Brasil, R$ 45).

Entre os brasileiros, quem mais prestigiou a categoria foi Érico Veríssimo, que incluiu em dez de seus treze romances 23 personagens jornalistas. Já o mineiro Rubem Fonseca fez uma divertida homenagem ao americano Nathanael West, autor de Miss Corações Solitários (Brasiliense, R$  24, em sebos ), cujo protagonista assina a coluna sentimental de um jornal.

No conto Corações Solitários, de Fonseca, um jornalista edita a seção de cartas sob o pseudônimo de Dr. Natanael Lessa. O conto foi publicado a primeira vez em 1975, no livro Feliz Ano Novo (Agir, R$ 39,90).

Juntar o drama que é sobreviver da notícia com assassinatos, então, seria a melhor fórmula para fazer dos jornalistas os ‘mocinhos’ da ficção. A argentina Claudia Piñeiro conseguiu isso em Betibu (Verus, R$ 42,90 ), mostrando a mudança nas redações, com a chegada do jornalismo em tempo real, desde a ascensão da Internet.

Claudia fala de crime e do embate que acontece no encontro das diferentes gerações profissionais, semelhante à luta travada por uma jornalista laureada e já aposentada com uma repórter novata, que vai entrevistá-la, em Exclusiva! (Companhia das Letras, R$ 57), de Annalena McAfee.

Já o inglês Tom Rachman montou um painel das transformações no setor no espetacular Os Imperfeccionistas (Record, R$ 42,90), que conta a trajetória de um jornal europeu, voltado para um público de língua inglesa, desde sua abertura até os tempos das mídias sociais.  

Um dos mais recentes romances sobre jornalistas é de Umberto Eco, com Número Zero (Record, R$ 35), que trata da preparação para  o lançamento de um novo jornal na Itália, em 1992. Eco explicou em entrevista a razão de situar a ação numa época conturbada por escândalos de corrupção e de combate aos esquemas que reuniam políticos e mafiosos: 

“Parecia que tudo mudaria. Havia a luta contra a corrupção com a operação Mãos Limpas. Mas chegou Berlusconi e foi exatamente o contrário”. Um panorama mais próximo do que vivem os jornalistas pode ser visto numa coletânea de contos escritos por quem sabe fazer notícia – e se arrisca na literatura.

Lançado em 2006, Parem as Máquinas! Jornalistas que valem mais do que 50 contos (Casa Jorge, R$ 45) traz 53 contos enfocando o dia a dia da profissão, com muita inspiração em fatos reais e um bocado de imaginação. Quase todos os autores trabalharam juntos, em algum momento, em alguma redação no Rio de Janeiro (a grande maioria), São Paulo ou Brasília.