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O primeiro álbum de Adriana Peixoto, sobrinha de Cauby, revela uma cantora amadurecida


Ciro Monteiro ri ao lado do primo Nonô. Moacyr Peixoto tamborila os dedos na mesa, enquanto seu irmão Araken, ansioso, cuida para que tudo esteja no devido lugar. Nada dará errado aquela noite. Próximos da maior raiz da jaqueira estão colocados o piston de Araken, os pianos de Moacyr e de Nonô, e o cantar de Ciro “Formigão” Monteiro. Por todo o lado vê-se a expectativa criada pela audição que aguardam com calorosa curiosidade.Claro que para eles a voz de Cauby Peixoto já é familiar, mas aquela festança é para a audição do primeiro CD de Adriana Peixoto. Por isso mesmo, naquele sarau etéreo, o que mais lhes aguça o sabor musical é conhecer a voz da sobrinha. Ainda que Araken lhes afiance que sua filha é do ramo, todos querem ouvir para crer. Ainda mais que, a convite, ali também está presente Tomé, outro santo. Entre um uísque e outro, Araken trata de lhes preparar o espírito e avisa que Cauby cantará “Altos e Baixos” (Sueli Costa e Aldir Blanc) com Adriana. E uma lágrima lhe cai dos olhos ao falar da emoção que viu na voz do irmão, tão comovido no duo com a sobrinha.Aproveitando um tempinho na balbúrdia do sarau familiar, Araken revela também que a filha gravou três músicas de Dalmo Medeiros, seu primo e integrante do MPB4: “De Cabeça Pra Baixo”, ótimo samba que, com sua letra atualíssima, leva o jeitão de que vai fazer sucesso; “Ação Entre Amigos”, cuja bela melodia casa bem com os versos de Danilo Caymmi; e “Zé Mané” (com Marcelo Guimarães). Lançado pela Studium Brasil, o primeiro álbum da caçula do clã dos Peixoto revela uma cantora amadurecida. A voz calorosa faz dos sambas uma festa alegre, e dos sambas-canções uma folia amargurada. “Saudosa Maloca” (Adoniran Barbosa) surpreende com a levada de salsa do piano; e “Passagem da Ilusão” ótimo samba de Miltinho (MPB4) e Paulo César Pinheiro, realça a força de seu cantar. Tudo nos conformes de uma cantora com muito balanço e com uma afinação que demonstra que ela nasceu pronta para o árduo desafio de brilhar num universo musical já pleno de grandes vozes femininas.Os arranjos do pianista Yaniel Matos amparam a intérprete que não busca caminhos, posto que já os tem de cor – na ponta da língua e em suas cordas vocais abençoadas por seus ancestrais que, ao ouvi-la, sob a jaqueira no céu, por ela derramam eternas lágrimas musicais. Enquanto brindam ao lançamento do primeiro CD de Adriana Peixoto: “Quem diria, né?”, diz Moacyr, “Aquela menininha que víamos brincando hoje é cantora. Das grandes!” “Viva ela!”, gritam. Assim como nós, reles mortais.Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4