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O encantador de ouvidos


Parceiros inseparáveis, músico e violão agigantam-se ainda mais pela confiança que um tem no outro. Feito unha e carne, os dois tocam muito. E, de fato, Guinga e seu violão colocam as canções no osso neste disco. Nada nelas é excessivo, tudo é fruto do carinho do instrumentista pelo violão.

O que se ouve em Roendopinho é o sumo de uma obra grandiosa; o extrato de uma inspiração que vem à luz como um filho gerado pelo amor entre duas pessoas.

Espanta o fato de que ele nunca estudou música – Carlos Althier de Sousa Lemos, dentista de profissão, mas para a música apenas Guinga, é autodidata. Exemplo de que aos diferenciados é dado o direito de tornar-se genial. Gênio, sim, sem recear exceder.

Guinga é um encantador de ouvidos. Música é o motor que o leva à frente. Para ele, um compositor de obras de referência, não basta criar belas frases musicais, há que fazê-las soar como nunca se ouviu igual; assim ele compõe. Aí está a verdade.


Para Guinga, o violonista, não basta inverter belos acordes e dar-lhes ar de modernidade, há que recriá-los com sonoridade compatível com o saber de seu criador; e assim ele toca. Guinga não busca o novo, ele é o novo. E é isso que encontramos em Roendopinho. Em suas quinze faixas, Guinga junta o verbo ao substantivo, unindo-os feito uma metáfora que traduz as suas músicas.

Dessas quinze músicas, treze inéditas são só dele e apenas duas têm letra (muito embora na gravação Guinga prescinda dos versos para tocá-las, enquanto apenas cantarola as melodias). As belas “Cambono” (Guinga e Thiago Amud) e “Lendas Brasileiras (Guinga e Aldir Blanc) mostram o porquê das melodias de Guinga atraírem versos sempre especiais – beleza atrai beleza. Logo, provavelmente, as novas melodias desse CD também ganharão letras escritas por grandes compositores, pois Guinga ocupa hoje um lugar privilegiado na música brasileira, lugar que é seu por merecimento.

Requintado concerto para violão: assim é o novo CD de Guinga. Solando suas músicas com um som límpido, elas ora resvalam no erudito, ora no popular.

Embora ele se veja como um músico “nada especial”, a audição do CD, com músicas de gêneros tão variados quanto belos, indica que sua humildade parece não lhe autorizar ver o esplendor de sua obra. Mas ele segue, deixando boquiaberta uma legião de músicos, seus contemporâneos, e de fãs que reconhecem a genialidade de suas composições: sinuosas, repleta de subidas e descidas, quase sempre inesperadas, mas com pequenas retas para repouso.

Em Roendopinho viaja-se pela genialidade musical de Guinga, como que sem hora para chegar a lugar algum, apenas indo, ouvindo... Meu Deus!

Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4