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O doloroso momento de deixar o livro


Ultimamente, tenho me deparado com esses textos curtinhos, que acabam cedo demais, como Primeiros Contos (José Olympio, R$ 32,90 ), de Truman Capote, escritos entre a adolescência e a juventude do autor que viria a se tornar um dos patamares da nova literatura norte-americana em meados do século XX. A observação crítica da sociedade segregacionista do interior faz da crueldade e do racismo pano de fundo de algumas dessas histórias tocantes. Embora mais extenso, o único romance da  norte-americana Lydia Davis, que se notabilizou por contos curtíssimos, O fim da história (Record, R$ 44,90), é leitura hipnótica, daquelas que termina deixando saudade no leitor. Na mistura de três enredos desenvolve-se a trajetória de um caso amoroso que serve de inspiração para o livro de uma escritora.  Os diversos planos fragmentados, desordenados como as recordações sobre o relacionamento, passam das lembranças à rotina da escritora, voltando à ficção que ela monta.

Essa história por trás da história também está no arrebatador Destinos e fúrias (Intrínseca, R$ 39,90), de Lauren Groff, que teve como garoto-propaganda deste romance nada menos do que Barak Obama. Mais de duas décadas de paixão, companheirismo e admiração sedimentam o casamento do reverenciado dramaturgo Lotto e de Mathilde, a bela e dedicadíssima mulher, que desde a juventude sempre foi o maior apoio às criações do marido.  Ao revelar os segredos que se escondem por trás da imagem do casal perfeito, Lauren Groff não apenas faz uma reflexão sobre o amor, mas também sobre as máscaras sociais que a vida sempre exige de homens e mulheres.


Doloroso é fechar a última página de Os Afetos (Intrínseca, R$ 29,90), do boliviano Rodrigo Hasbún, que conta, sob a ótica de diversos personagens, a saga de uma família que emigra da Alemanha para a Bolívia, na Segunda Guerra Mundial. O carismático pai, um cinegrafista que espera encontrar uma cidade inca na selva amazônica, é retratado pelos relatos das três filhas, que reagem perdida de civilizações pré-colombianas nos Andes, é retratado pelas filhas, que se entusiasmam com o projeto. Cada uma, no entanto, busca sua própria identidade e felicidade de formas diferentes, em meio à convulsão política da América Latina nos anos 1960.

Tramas paralelas não faltam em A sociedade Santa Zita (Bertrand Brasil, 39,90), de Ruth Rendell, que mostra a vida num bairro elegante de Londres através dos empregados, que formam um grupo para discutir os problemas da vizinhança – desde o barulho excessivo, contra o qual não podem se insurgir, já que é produzido pelos próprios patrões, até os inconvenientes dejetos de cães abandonados pelos canteiros nas calçadas. Todos vigiam a vida dos outros, criticando os hábitos e suportando a convivência entre as diferentes culturas de descendentes de imigrantes, que abalam a ordem milenar da sociedade britânica. Como em outros thrillers de Ruth Rendell, os conflitos sociais integram a trama como elementos que levam ao crime.