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O cronista da cidade de São Paulo


Voz afinada e com suingue na divisão das frases, Rogerio Santos é um bom cantor. Com linguajar cosmopolita, diametralmente oposto ao de Adoniran, com imagens mais rebuscadas, concepções poéticas mais modernas e inusuais, ele busca o feito de ser um novo cantador da alma da gente paulistana. Não o único, mas alguém que vem se somar aos que veem em São Paulo uma fonte de inspiração, uma plataforma que possibilite salto à altura de seus arranha-céus.

Os parceiros mais frequentes de Rogerio são Tony Freitas, o Pituco, presente no disco com sete parcerias; Floriano Villaça com duas, ele que, junto com Rogerio, é o diretor musical e também o arranjador de dez das onze músicas gravadas no CD; Fabio Barros com uma, para a qual fez o arranjo; e Renato Candro com uma.

Banda: Floriano Villaça (violão de seis cordas), Italo Peron (violão de sete cordas), Mariô Rebouças (piano), Caio Góes (baixo), Wellington Moreira, o Pimpa (bateria e percussão), Fábio Peron (bandolim), Fabio Barros (violão de sete, viola caipira e banjo) e Ari Colares (percussão).

O repertório expõem os dotes do Rogerio cantor e letrista. “Carro Anfíbio” (Pituco e Rogerio) é um saboroso samba salseado, cujos versos troçam com o drama das enchentes e com as eternas promessas de solução inventadas desde sempre por prefeitos caras de pau, e finda com referência a “O Barquinho” e “O Bêbado e a Equilibrista”. Aliás, a crítica bem humorada é uma das marcas das letras com as quais Rogerio tece loas à sua cidade.

Com introdução tocada pelos violões de seis e de sete cordas, “Poente” é uma bela faixa. Outra linda é “Valsa Etérea” (Floriano Villaça e Rogerio), que tem o cantor puxando a voz nos agudos e o piano num inspirado intermezzo. Bonita também é “Pequeno Conto” (Villaça e Rogerio), que inicia com a percussão e segue com o baixo e o piano dando suavidade à canção. Após um belíssimo intermezzo do piano, entra a voz irrefutável de Ritamaria, que, somada a de Rogerio, dá à música um grande frescor.

“Nação Piratininga” (Fabio Barros e Rogerio), cuja letra volta às referencias objetivas à São Paulo, fecha o CD. Nela estão nomes de bairros da cidade, tudo encorpado pelo dueto vocal de Rogerio com Fabio. O banjo e a percussão enricam a pisada do baião, num suingue dolente.

Com suas crônicas, Rogerio mergulhou corajosamente no íntimo da cidade, já tão bem cantada por Adoniran. Ciente das possíveis comparações da sua produção com a daquele que é a mais fiel imagem da cidade, Rogerio tratou de se arrojar num mergulho profundo dentro da alma paulistana. Um jogo arriscado, mas muito bem sucedido.

Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4