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Leituras pré-carnavalescas


Personagens que encontramos no dia a dia de qualquer metrópole conduzem os contos de Ferrugem (Record, R$ 34,90), de Marcelo Moutinho. São passageiros que dividem bancos de ônibus todos os dias, o artista anônimo que imita o cantor mais famoso do país, no cabaré obscuro, nos intervalos de shows de transformistas, a romântica que estrutura sua vida a partir de uma ilusão, entre tantos outros. A solidão das almas cercadas pelas multidões da cidade imensa é o traço comum nos delicados relatos, quase crônicas realistas da urbanidade contemporânea.

Em 1930, Stefan Zweig lançou A cura pelo espírito (Zahar, R$ 44,90), em que, apresentando os perfis de Franz Mesmer, um dos pioneiros no estudo da hipnose, Mary Baker Eddy, fundadora da Ciência Cristã, seita que acreditava na força da fé e no êxtase como tratamento para doenças, e do criador da psicanálise, Sigmund Freud, discute o comportamento humano e a curiosidade espiritual. Um delicioso apêndice é a correspondência de Zweig e Freud entre 1908 e 1939, quando ambos já haviam deixado a Áustria. Além de debates psicanalíticos sobre a criação literária, as cartas mostram a preocupação com a ascensão do nazismo e o início da Segunda Guerra Mundial.

Solidão, envelhecimento, maturidade, paixões e os paradoxos da vida real estão em Dicas da Imensidão (Rocco, R$ 39,50), que reúne contos da canadense Margaret Atwood publicados em jornais e revistas nos anos 1980. Com ampla maioria de protagonistas femininas, as mulheres de Atwood são competidoras ferozes no mundo corporativo e suportam situações que os valores éticos da juventude rejeitariam firmemente. Uma se conforma em conviver com um marido mulherengo, que conquistou até a cunhada, outra flerta com milionários para obter recursos que sustentem uma organização de combate à violência contra mulheres, há a que é demitida no retorno de uma licença médica e busca vingar-se do chefe.
 
As histórias criadas pela inglesa Jojo Moyes falam de amores possíveis, que enfrentam diferenças sociais, econômicas e culturais, mas que superam barreiras, graças à paixão, que domina os casais enamorados. Sempre há uma saída para a moça abandonada pelo namorado ao embarcar numa viagem romântica, a esposa entediada que se diverte com um flerte platônico pelo Whatsapp, o reencontro de ex-amantes numa festa ou a chantagem via Internet sofrida por um apresentador de televisão decadente. Essas são algumas das narrativas de Paris para um e outros contos (Intrínseca, R$ 39,90), em que Jojo Moyes consegue combinar melancolia, lirismo e situações divertidas nas doses perfeitas que a consagraram como mestra da literatura romântica da atualidade.