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Juventude atormentada


É o caso de Yaqui Delgado quer quebrar a sua cara (Intrínseca, R$ 29,90) O título já avisa o leitor sobre o que o espera, reproduzindo o ambiente violento das escolas secundárias nas grandes cidades. Transferida para um colégio próximo de sua nova casa, no Queens, em Nova York, a charmosa Piddy, de 15 anos, torna-se o alvo preferencial da agressiva Yaqui Delgado, uma jovem que já teve algumas passagens por reformatórios. Enciumada com a atenção que Piddy desperta nos rapazes, entre eles seu namorado, Yaqui passa a ameaçar Piddy, que vive o dilema de denunciá-la à diretoria do colégio ou jamais atravessar o caminho da valentona.

Embora direcionado ao público jovem, o romance, que recebeu excelentes críticas dos especialistas do segmento literário, não faz concessões a desfechos felizes, tão comuns em narrativas deste gênero. A pobreza e a violência acompanham os personagens, que enfrentam a vida com coragem, sem sucumbir à autopiedade, uma referência que acompanha todo o enredo, já que Piddy é o apelido de Piedad, filha de uma mãe solteira cubana, que jamais conheceu o pai.  A escritora Meg Medina demonstra conhecer perfeitamente o cenário que descreve. Filha de imigrantes cubanos, ela cresceu no Queen, e, atualmente, trabalha em projetos comunitários de apoio a jovens latinos e à literatura.

Dentro do segmento juvenil, crescem as histórias sobre os rejeitados que se vingam das figuras mais populares nas escolas. Dente por dente (Novo Conceito, R$ 34), de Jenny Han e Siobhan Vivian, é a continuação de Olho por olho (Novo Conceito, R$ 34), em que três garotas decidem se vingar dos colegas que as desprezam ou que as magoaram em algum momento. O que torna intrigante a leitura é que nenhuma das meninas aparenta ter traços das psicopatas que agem unicamente movidas pela vingança, não importando se os alvos de seu ódio possam sofrer danos irreparáveis ou até morrer.

Saindo da ficção, mas demonstrando a triste realidade da juventude em boa parte do mundo, uma boa leitura no momento em que o Brasil discute a redução da maioridade penal é Nó do Diabo (Record, R$ 55) da jornalista Mara Levitt. Uma minuciosa reconstituição do processo demonstra o quanto o pré-julgamento sobre os hábitos pouco convencionais de três rapazes numa cidadezinha do Arkansas levou-os à condenação pelo assassinato de três meninos de 8 anos, em 1994. Damon Echols, então com 18 anos, Jessie Misskelley, de 17 e Jason Baldwin, de 16, foram acusados de matar as crianças em rituais satânicos. Depois de 18 anos na cadeia (Echols aguardava execução no corredor da morte, enquanto os outros dois cumpriam prisão perpétua), eles foram liberados por ausências de provas devido ao clamor público em favor deles, que tiveram apoio de artistas de cinema, depois do lançamento de um documentário sobre o caso.