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Instrumentistas do Projeto B lançam pequena obra-prima com adaptações de músicas de Villa-Lobos


O gênio de Villa deixou em aberto o jeito de desvendá-lo. Não importa a forma de imaginar a sua música: popular ou erudita, as duas coisas juntas ou uma dificultando que a outra flua com mais riqueza. Seu talento tanto pode ser ouvido assim como assado. Tão simples e singelo como profundo e experimental, cabe a quem deseja tocá-lo buscar sua própria maneira de percebê-lo.         Choros, modinhas, valsas, cirandas, estudos e outros gêneros de composição compõem o mosaico que desvenda a musicalidade de Heitor Villa-Lobos, pintor de canções, artesão de imagens sonoras. Dele só se pode esperar o repentino. Dele nunca virá uma sequência previsível de acordes. Nele sempre se verá, isto sim, o desafio do inesperado que causa estranhamento ou lágrima.         A música de Villa deu à alma brasileira o jeito milagroso de se fazer irresponsável quando quer assustar ouvidos temerosos de ousadia ou se revelar harmoniosa quando há vontade de que ela assim o seja.   Aberta para ser escarafunchada por mãos e ideias que lhes tragam ainda mais riqueza, a música de Villa-Lobos encontrou no trabalho do grupo Projeto B (Yvo Ursini, guitarra, ruídos arranjos e composição; Leonardo Muniz Corrêa, sax alto, clarinete, arranjos e composição; Vicente Falek, trompete, sanfona, arranjos e composição; Amilcar Rodrigues, trompete, cornet e flugelhorn; Henrique Alves, baixo; e Mauricio Caetano, bateria), uma dinâmica que acrescenta desafios relevantes a toda sua modernidade. Assim nasceu A Viagem de Villa-Lobos (selo SESC SP).O CD, encartado num libreto com esmerado cuidado gráfico a cargo de Thereza Almeida, e com composições de Leonardo, Yvo e Vicente, uma de cada, reúne seis obras de Villa: “Prole do Bebê no 1 – Bruxa (A Boneca de Pano)”, “Choros no 5 – Alma Brasileira”, “Choros no 2”, “Cirandas no 2 – A Condessa”, “Saudades das Selvas Brasileiras no 1” e “Estudos para Violão no 12 e no 8”. No libreto, Manu Maltes desenhou a sua concepção da trajetória musical de Villa-Lobos. Seus desenhos são metafóricos; neles o compositor é personagem vívido. Ao fim, o desenhista se revela e ao sexteto numa mesa de bar, inebriados com a aura do mestre. Villa vive no traço inquieto de Maltes.No álbum, o experimentalismo se mistura ao consagrado. Sons clássicos se sobrepõem a ruídos inimagináveis, arranjos plenos de reverência se alternam com outros em que quase não se percebe onde está a linha mestra da composição.O som sem dogmas dos integrantes do sexteto dá à obra de Villa-Lobos ainda mais inovação e brasilidade, ainda mais tradição e universalidade. Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4