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Independente! Mas dependente de quem o ouça


O mais interessante é que, dentro da crueldade reinante nessa lógica perversa que é feita mais para excluir do que para facilitar, este é o sétimo CD autoral de Sidney Mattos. Compositor de boas qualidades, cantor mediano que funciona como apresentador de seu repertório, instrumentista correto, harmonizador de recursos, produtor atento, ele, além de tudo, tem o que contar. Suas vivências são ricas e ele não as deixa aquietarem. Faz bem. Se todos que são como ele tivessem o mesmo ímpeto, os que souberem dele perceberão com quantas histórias se faz uma boa canção. Mais: conhecerão com quantas notas se faz a luta para deixar de ser membro dessa enorme legião de fantásticos compositores e instrumentistas eternamente-quase-anônimos que não podem deixar, nem deixam, a peteca cair. Como tantos, Sidney Mattos rema contra a maré; caminha na contramão; busca o céu da criação enquanto trisca as entranhas do purgatório. Agarra-se com unhas e dentes ao talento que só ele e os que lhe são próximos sabem que tem.Para gravar esse novo CD independente, Sidney Mattos convidou uma turma de 17 feras que o auxiliaram a dar às músicas a cara com que ele sonhou: os guitarristas Cláudio Gurgel e André Novaes, os violonistas Dalmo Mota e Renato Alvim, os percussionistas Repolho e Chiquinho Brazão, o pianista Alberto Farah, o violoncelista Osias Gonçalves, o violinista Bernardo Besseler, os saxofonistas Zé Carlos "Bigorna", Guilherme Brício e Ricardo Pontes, os baixistas André Dantas e Flávio Pereira, os bateristas Fernando Pereira e Teo Lima, o flautista Zé Carlos "Bigorna" e o vocalista Viça Barcellos. Todos são tão competentes e destemidos quanto o Sidney Mattos que os reuniu.Ao nascer, a música é feito um filho que, ao primeiro choro, tem um rosto, no segundo já se mostra diferente e, passado o primeiro mês, já tem a personalidade com a qual irá ao mundo. Assim é a criação de uma música: findo o último acorde, no exato momento em que parece pronta, é justamente ali que começa o processo de elaboração que costuma não ter fim, a não ser quando outras pessoas, ao cantarem a canção, a façam efetivamente concluida. Não sou compositor, mas tenho filhos. Cinco. Fecho parênteses.Volto ao CD de Sidney Mattos. Apesar de ter composto "Feitiço", uma boa letra para uma bela melodia, bem harmonizada por Mattos, Luiz Alfredo Milleco, o letrista mais presente no CD - sete parcerias num total de 14 músicas -, não parece ser quem melhor se adapta às melodias de Sidney.Em Eu Sou Assim destacam-se "O Amor", bela canção letrada por Horivaldo Gomes e Maurício Duboc; "O Índio", que recebeu letra de Xico Xaves; e também "Vida Inteira", letra de Ana Terra que finda inspirada: "Faço que nem os loucos abençoados/ Vejo no mundo a luz que ninguém vê/ Deus só habita os seres apaixonados". Mas é com "Anjo", cujos versos são de Ivan Wrigg, que Sidney atinge o ápice da qualidade no disco que acaba de lançar. Ao se encaixar harmoniosamente com a melodia, os versos se fazem cristalinos: "Um anjo doce/ Com olhar sereno/ Todo amor é pleno/ Quando se ilumina/ E me fez leve/ Pura Poesia/ Que a vida escreve/ Fora do papel".Apaixonado pelo que faz, Sidney se deixa levar pelo apaixonante delírio de se fazer querido por seu ofício. Amar a música é a sua louca sina. E o amor é o principal sentimento que leva Sidney Mattos a compor. Poesia em louvor à liberdade pela qual ele luta desde sempre com a mesma intensidade com que despreza a injustiça e ama a música.Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4 e autor de O Gogó de Aquiles, ed. A Girafa. Seus textos são publicados semanalmente no Acontece na  no Diário do Comércio (ACSP), Meio Norte (Teresina), A Gazeta (Cuiabá), Jornal da Cidade (Poços de Caldas) e Brazilian Voice (EUA). No rádio, sempre às segundas-feiras, das 15h às 16h, "O Gogo de Aquiles" vai muito bem, obrigado. Você poderá escutá-lo (no Rio de Janeiro) sintonizando diretamente na Rádio Roquete Pinto, ou (fora do Rio) na internet: www.fm94.rj.gov.br .