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Estranhamentos amorosos


Um dos mais populares autores alemães, Bernhard Schilink ficou famoso por aqui com O leitor (Record, R$ 44,90), que virou filme e foi traduzido para 50 idiomas. O thriller A mulher na escada (Record, R$ 39,90) parte do reaparecimento de um quadro dado como perdido em uma exposição na Austrália para falar sobre os três homens que se apaixonaram, em algum momento, pela mulher retratada na pintura, que vão acertar as contas com o passado. Como em outras das criações de Schilink, esta é de um profundo romantismo, na visão de um homem maduro.

Cada linha de Me chame pelo seu nome (Intrínseca, 39,90), de André Aciman,  transpira paixão e erotismo que transcendem gêneros. O calor do verão no interior da Itália se intensifica no envolvimento do adolescente italiano Elio com o arrogante americano Oliver, hóspede de sua família durante as  férias. Ambientado no início dos anos 1980, ainda muito distante dos tempos de controle absoluto da vida alheia pela Internet – e celulares –, o romance entre os dois rapazes se desenvolve preguiçosa e cautelosamente. A adaptação cinematográfica, que concorre ao Oscar de melhor filme, capta a languidez da narrativa, mas abrevia momentos que compõem a evolução dos personagens das descobertas juvenis à maturidade, sempre pelo olhar de Elio, que recorda todas as intensas sensações experimentadas nos primeiros amores.

O despertar sexual de um adolescente da alta burguesia e extramente protegido pela família poderia ser transposto para os dias de hoje, dada a semelhança da couraça que alguns pais montam em torno de seus filhos – em algumas classes sociais brasileiras. Na década de 1920, Amar, verbo intransitivo/Idílio (Nova Fronteira, R$ 34,90), de Mário de Andrade, causou escândalo ao contar, com muito sarcasmo e delicadeza, o processo de sedução do jovem garoto Carlos pela governanta alemã, contratada por diversas famílias ricas para iniciar sexualmente os filhos. Um dos marcos literários do modernismo no Brasil, contrabalançando lirismo, humor e um retrato sincero das emoções de cada personagem, o romance não apenas expõe a hipocrisia de uma sociedade, mas as abissais desigualdades sociais que persistem quase um século depois do lançamento do livro.

Fora do mundo da fantasia, as governantas estrangeiras que vieram ao Brasil nem sempre tinham a função de se relacionar tão intimamente com os pupilos. Os meus romanos: alegrias e tristezas de uma educadora alemã no Brasil (Paz & Terra, R$  39,90) traz as memórias de Ina von Binzer, que recorda em cartas para uma amiga a experiência como preceptora no Rio de Janeiro e em São Paulo, de 1881 a 1884. O choque cultural atordoa a jovem professora tanto quanto enfrentar o calor inclemente dos trópicos. Os costumes grosseiros da elite brasileira, a simplicidade da família imperial, que ela conhece em uma festa, o incômodo ao conhecer a situação dos escravos, muitos libertos, mas vivendo ainda nas terras dos ex-senhores, a indolência das elites estão entre as diversas causas de estranhamento de Ina, que se mantém como observadora, jamais se entregando à exuberância dos “romanos”.