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Em nome do pai e da filha


Encerrado o show, Antonio Adolfo lembrou-se de que um dos músicos havia pedido ao técnico de som Paul Griffith que gravasse descompromissadamente o espetáculo. A audição da fita surpreendeu favoravelmente os protagonistas do concerto. Assim, estava lançada a pedra fundamental para o lançamento de um CD gravado ao vivo. Bom dizer que Antonio Adolfo e Carol Saboya ao vivo/live (Artezanal, gravadora de Antonio Adolfo e Kuarup) em nada pode ser comparado a outros discos gravados ao vivo. Nesses casos, realizam-se, quase sempre, ao menos três shows, todos gravados com equipamentos de última geração, o que permite que se capte e equalize os sons cujo resultado nada fica a dever àqueles conseguidos em estúdio. Com apenas dois ensaios, o concerto transformou-se num "ao vivo" puro, sem retoques. Tudo soa no disco como foi tocado no dia em que o público muito aplaudiu Carol e Antonio. Não regravou-se sequer uma nota dela; nenhum acorde deles foi corrigido. Não careceu.Está tudo lá: a abertura ("Rhapsody in Blues", "Aquarela do Brasil" e "Garota de Ipanema") tem arranjo fecundo e é centrada no piano com a sonoridade que é marca registrada de Antonio Adolfo, virtuosa referência do piano brasileiro.Logo, Carol Saboya, boa cantora, segura feito veterana - após gravar quatro CDs no Brasil e dois no Japão - entra marcando o compasso com o estalar dos dedos e solta a voz em "Fotografia" (Tom Jobim), inicialmente acompanhada apenas do contrabaixo acústico de Vivas. Mas a eles logo se juntam os outros instrumentos."Meu limão, meu limoeiro", cujo arranjo de Adolfo se baseou num feito por Maurício Maestro para um CD anterior de Carol, Sessão Passatempo - produzido pelo competente Hermínio Bello de Carvalho -, está meio perdido no repertório. Fraqueza amenizada pela junção feita com "De onde vem o baião" (Gilberto Gil) e "O Cantador" (Dori Caymmi e Nelson Motta).O ponto alto do show é também o ápice do CD: "Bonita" (Tom e Ray Gilbert). Já gravada por Carol em 1998 num CD em homenagem a Tom Jobim, produzido pelo saudoso Almir Chediak e acompanhada pelo violão de Nelson Farias, "Bonita" está linda! Belamente cantada e competentemente acompanhada pelos quatro músicos. Seguem-se alguns números instrumentais, com destaque para o arranjo de Antonio Adolfo para "Insensatez", no qual ele dedilha notas soltas no teclado como ensinou mestre Jobim, enquanto o contrabaixo sola. Todavia, "Carinhoso" (Pixinguinha e João de Barro) e "Bambino - Você Me Dá" (Ernesto Nazareth e Catulo da Paixão Cearense) não resultam em força para o show e, por conseqüência, nem para o CD.Carol volta para brilhar em "Canto de Ossanha" (Baden e Vinícius); em "Wave" (Tom), cantada com arranjo de Antonio, cujo final ele aproveitou de um outro feito por ele para shows que Elis Regina realizou em 1968; em "Passarim" (Tom), arranjo de Maurício Maestro, também gravada no CD Passatempo; em "Chovendo na Roseira" (Tom) e em "Sá Marina" (Antonio Adolfo e Tibério Gaspar). O CD finaliza com a obra-prima "Milagre" (Dorival Caymmi), quando Carol aproveita para apresentar os músicos, e com "Corrida de Jangada" (Edu Lobo). Belo registro de um encontro feliz entre pai e filha. Antonio deve estar orgulhoso por Carol cantar o que canta e também por tocar com ela, que brilha sua voz nas oitavas intermediárias do piano - onde fica mais à vontade para mais afinar, bem mais suingar e melhor dividir a letra, multiplicando o seu talento.Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4 e autor de O Gogó de Aquiles, ed. A Girafa. Seus textos são publicados semanalmente no Acontece na  no Diário do Comércio (ACSP), Meio Norte (Teresina), A Gazeta (Cuiabá), Jornal da Cidade (Poços de Caldas) e Brazilian Voice (EUA). No rádio, sempre às segundas-feiras, das 15h às 16h, "O Gogo de Aquiles" vai muito bem, obrigado. Você poderá escutá-lo (no Rio de Janeiro) sintonizando diretamente na Rádio Roquete Pinto, ou (fora do Rio) na internet: www.fm94.rj.gov.br .