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Duas divas


O termo é esmiuçado por Artur Xexeo na deliciosa Hebe – A biografia (BestSeller, R$ 34,90), que traz a comovente história de amor entre a  apresentadora e sua audiência fiel. Não faltam casos engraçados em sua movimentada vida de artista – foi cantora de sucesso nos anos 1950, antes de se dedicar quase exclusivamente ao comando de programas de TV -, como a ausência na festa da primeira transmissão da televisão brasileira, quando cantaria um hino especialmente composto para o evento. Avisou que estava doente, foi substituída pela amiga Lolita Rodrigues, e demorou mais de 50 anos para revelar que preferira passar a  noite com um namorado. Revelação feita, naturalmente, numa memorável entrevista a Jô Soares, ao lado de Lolita e de outra amiga íntima, a atriz Nair Bello.

A personalidade espalhafatosa escondia, para muitos, modéstia e um certo constrangimento por sua falta de cultura. Hebe largou os estudos na adolescência para trabalhar. Por isso, quase se recusou a ser entrevistada por um grupo de jornalistas no programa Roda Viva, em 1987, temendo um massacre daqueles “intelectuais, gente que estudou”. Artur Xexeo, que conversou com alguns dos entrevistadores do programa, afirma que bastou Hebe entrar em cena, soltar meia dúzia de “que gracinha” e “lindo de viver” para acabar aplaudida, o que raramente aconteceu em toda a história do programa. Os temíveis repórteres haviam se rendido à “hebenização”, conquistados pela sinceridade e charme de Hebe – o que, provavelmente, ocorrerá com boa parte dos leitores.  

Incorporadora de hábitos alheios, Hebe foi surpreendida com um beijo nos lábios dado pela cantora Rita Lee em uma festa. Transformou os “selinhos” em uma de suas marcas registradas. Sobre Hebe, a roqueira fala com muito carinho em Rita Lee – uma autobiografia  (Globo Livros, R$   44,90), lembrando da amizade entre duas personagens tão diferentes e que se completavam. A acolhedora Hebe deu “carinho, comida e colo” à Rita em uma das fases de depressão da cantora, que lhe rende homenagens eternas pela generosidade. Da mesma forma que a biografia de Hebe, o relato de vida de Rita Lee diverte os fãs, mas incomoda  admiradores do grupo Os Mutantes, reverenciado como pioneiros do rock brasileiro. Rita, que integrou a banda ao lado dos irmãos Arnaldo e Sérgio Baptista, fala com irreverência sobre os ex-companheiros e outros desafetos. Elogios rasgados, no entanto, sobram para amigos, entre eles a cantora Elis Regina, que a apoiou quando foi presa, grávida do primeiro filho, por uma suposta acusação de posse de drogas. Caótica e irreverente como sua autora, a autobiografia de Rita Lee não se propõe a analisar a importância no cenário musical da autointitulada Vovó do Rock. É um retrato descompromissado de uma artista que prefere divertir do que enfatizar sua própria relevância para a música brasileira.