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Dhenni revisita Luhli e Lucina


“Flor Lilás” (Luhli), abre o álbum com um arranjo épico escrito por Daniel, no qual o naipe de metais pontifica em meio à massa sonora. Dhenni canta a plenos pulmões os versos de Luhli: Eu tenho medo que um dia/ Da ponta de cada fio/ De cada cabelo da minha cabeça/ Nasça uma flor lilás? Flor lilás. Sua voz aguça o que foi proposto pelo arranjo: quase se dilacerar para fazer jus aos versos iluminados pela ânsia de quem sonha com uma vida a ser vivida. Cantor de recursos, Dhenni se vale de agudos certeiros para atingir as notas mais altas da música. Para manter o canto pleno de grandiosidade, sua entrega é valiosa. Porém, tal intensidade, que de início parecia ser auspicioso, finda sendo um tanto excessiva.  

“Regando o Mar” (Luhli e Alexandre Lemos). A introdução só com o violão é anúncio de que algo mais contido vem vindo. Entra o ritmo, e, de fato, a sonoridade agora é mais suave, permitindo que Dhenni seja o protagonista, sem ter de quase competir com os instrumentos, e cante com voz tranquila os versos da canção.

Bela é “Coração Aprisionado” (Luhli e Lucina). O arranjo usa percussão e cordas para criar climas que reforçam os versos: Ai, há uma fera à solta/ E a minha garganta, amor/ Se estreita e se cala/ A solidão é assim. Ora soando em bloco, ora em pizzicato, as cordas desenham caminhos por onde passam as palavras. Dhenni se esmera e dá sabor a elas.

Igualmente bela é “Escultura” (Luhli). No arranjo, apenas a viola dá asas para a voz de Dhenni voar, ela que lhe sai plena, carinhosa, calorosa. Com a viola ponteando e a percussão ritmando, um intermezzo sonoriza um instante pleno de vida musical.

“Nunca” é uma parceria de Dhenni com Luhli. Acompanhados de baixo e percussão, os dois cantam e engrandecem a letra plena de “dicas” para bem viver.

“Tudo de Nada” (Luhli e Lucina). O piano apoia o canto de Dhenni. Emocionado, sua voz soa pungente, afinada e bela. As cordas se juntam ao piano e, no final, ambos permitem a Dhenni um show de interpretação, com direito a uma longa e exata respiração, o que reforça a convicção de que o cara é um grande cantor.

Fechando a tampa, “Ao Menos” (Luhli e Lucina). Piano, teclado e baixo iniciam. Dhenni canta macio, comovendo. As cordas surgem e conduzem a canção a um lindo final de um bom CD, gravado por um grande intérprete, que bem homenageia o trabalho de duas grandes compositoras.

Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4

PS. Viva João Ubaldo! Que os orixás da Bahia o iluminem.

PS.2. Logo depois de João Ubaldo e Rubem Alves, lá se vai Ariano Suassuna. O Brasil está cada vez mais pobre. Meu Deus!