Loading...

Delicadezas de flores e amores


Muitas figuras estão incompletas ou coloridas apenas pela metade, como se os desenhos ou as colagens de fotos precisassem de cada leitor e de conclusões únicas, diversas entre si, acoplando a poesia de Angela aos traços inacabados. Não falta variedade de gêneros poéticos, dos narrativos e descritivos ao sintético hai-kai  O significado das cores (“amar ello/ver-me-yo/a su lado”).  A sonoridade das palavras em cada verso transportam para um Brasil colorido, por vezes saudoso de outras eras (“parece um vestido de fustão debruado/que pertenceu talvez á minha avó nos tempos de colégio, quando ela voltava nas férias montada em um burro (...) cheirando a talco e pó de arroz no meio do cerrado”), exaltando a simplicidade num mundo que cultua a ostentação inexplicada (“guardanapos pretos também me aborrecem/a arrogância de alguns talheres inúteis”).  

Essa simplicidade de outras épocas é um dos elementos que aflora em A vida invisível de Eurídice Gusmão (Companhia das Letras, R$ 39,90), o delicioso romance de estreia de Martha Batalha, mas sem o olhar onírico e recompensado pelo reencontro com a natureza. A vida de “antigamente” da protagonista, uma dona de casa do século XX, que busca algum sentido na existência além das tarefas domésticas e da educação dos filhos, retrata uma realidade conhecida por muitas brasileiras de classe média. Casada com um funcionário do Banco do Brasil, Eurídice almeja por alguma realização pessoal, observada pela vizinha faladeira Zélia, mulher inteligente e ressentida com a humanidade desde que descobriu sua própria ausência de beleza física. Nos pequenos detalhes do cotidiano desses personagens, arquétipos tão bem desenvolvidos nas crônicas de Nelson Rodrigos, emerge um país de tempos da opressão social, da condenação pública de qualquer comportamento que não se enquadre no destino traçado desde o nascimento pelos pais e avós de gerações anteriores. A rebeldia de Eurídice se edifica nas artimanhas para engabelar ou convencer o marido-provedor e senhor, num casamento em que amor e prazer não têm tanta relevância quanto o dever.

Aparentemente simples e delicadas são as tramas desenvolvida pela inglesa Jojo Moynes, uma das campeãs de vendagem mundo afora, que já teve três de suas obras em listas de mais vendidos ao mesmo tempo -  entre eles  Como eu era antes de você (Intrínseca, R$ 34,90), que ganha nova edição com capa mostrando o cartaz do filme estrelado por Emilia Clarke e Sam Clafin. Mestre nos enredos românticos, a autora apostou no encontro entre uma jovem pobre e o milionário tetraplégico que precisa de uma cuidadora. A paixão brota, o lirismo grassa e as vendas de oito milhões de exemplares – sendo 400 mil no Brasil – comprovam que as histórias de amor continuam irresistíveis. Também chega às livrarias uma nova edição de A última carta de amor (Intrínseca, R$ 34,90), primeiro livro de Jojo Moynes, que conta a história de duas mulheres, separadas por quatro décadas. Em 1960, Jennifer acorda em um hospital depois de sofrer um acidente de carro. Sem memória alguma sobre qualquer aspecto de sua vida, ela encontra várias cartas de um amante que assina apenas com a inicial “B”. Nos anos 2000, as cartas chegam às mãos da jornalista Ellie, que vai tentar reunir os apaixonados. Simplesmente irresistível.