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Com quantos baques se faz o maracatu?


Só alimentada pelo vigor do talento musical da juventude e apoiada naquilo que é passado de pai para filho a música seguirá, em todos os seus formatos e sendo revista através dos tempos. Graças à mocidade e ao seu entusiasmo, as gerações futuras não serão privadas de se divertir ao ritmo da caixa, das alfaias de base e de viração, do xequerê, da conga e do ganzá, dos tambores, da zabumba e do pandeiro.Ao tomar para si a vontade de fazer da tradição modernidade, a moçada vai fundo na música, que aí sim se irradia e amplia o alcance da manifestação musical (que tanto tememos pelo esgotamento por inanição). E que não caiamos na cilada de crer que o choro, o maracatu, o samba, o frevo, o reisado, a ciranda e o jongo hoje são só folia para a galera mais jovem. Não; pois para melhor farrear, ela está estudando musica e se aperfeiçoando no manuseio da história que ouviu seus pais cantando. Mas fazem dela algo que os mais velhos já não conseguem: chegar ao coração e à alma dos que têm pouca idade. Não por incompetência daqueles, evidentemente - pois a muitos sobra talento e tenacidade -, mas por uma questão de linguagem. A questão é o jeito de chegar à mente da gente que tem igual anseio de agir ao ler e ouvir a música já feita e de refazê-la para tornar a oferecê-la, inconclusa, a todo mundo. Produzido por Pedro Luís (líder da Parede e do Monobloco), o Rio Maracatu é formado por Patrícia Oliveira (voz e percussão), André Bala Bala (voz e flauta), Cachaça (viola, guitarras, bandolim e cavaquinho), Pedro Costa (violão, violão de aço e guitarra), Sidão Santos (baixo), Rodrigo Scofield (bateria), Adriano Sampaio, Bruno Abreu, Chicote e Tiago Magalhães (percussão).  Há nove anos vão pelas estradas abertas por outros meninos - Mestre Ambrósio, Monobloco, Cordel do Fogo Encantado -, inspirados em Antônio Nóbrega, no Quinteto Violado, em Chico Science & Nação Zumbi, em Alceu Valença e na Banda de Pífanos de Caruaru. Apesar de terem o maracatu no nome, seus músicos tocam um mosaico eclético de ritmos brasileiros.Lapada (selo Rádio MEC), o primeiro CD deles, tem os elementos que há tempos vêm agitando ritmos brasileiros tão antigos quanto festivos. Partindo da formação tradicionalmente feita para tocar todas as muitas formas existentes de maracatu, o Rio Maracatu escolheu um ótimo repertório e o tocou e cantou mesclando guitarra, baixo, flauta, violoncelo e sax ao pandeiro, à zabumba e à caixa. Eles gravaram músicas de domínio público e também composições de integrantes do próprio grupo. E mais: de Rodrigo Maranhão (autor do sucesso "Caminho das Águas", gravação de Maria Rita que abre Amazônia, a minissérie de Glória Perez para a TV Globo) gravaram "Maracatu Embolado"; de Capiba, "Verde mar de navegar"; de Gonzaguinha, "Festa"; de Chico Science & Nação Zumbi, "Cidadão do Mundo" e de Pedro Luís, "Que baque é esse?".O Rio Maracatu emprestou sotaque carioca ao som nordestino. Os solos ficam a cargo ora de Patrícia Oliveira, voz suave de cabocla cantadeira e encantada, quando entoa a bela "Princesa dos Orixás" (toada do maracatu Porto Rico - Shacon Viana), ora de André Bala Bala, cujo timbre é assemelhado com o de Siba, vocalista e rabequeiro do Mestre Ambrósio, principalmente ao cantar "Samba Negro" (domínio público). Lapada é uma sacolejada em maracatus e que tais a que tantos se habituaram a admirar e também a temer por seu esquecimento.E o Rio Maracatu é uma folia rítmica vigorosa, uma máquina de levar à frente o som nascido no Recife, mas sempre em busca de novos cantos para se tornar ainda mais comunicativo.Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4 e autor de O Gogó de Aquiles, ed. A Girafa. Seus textos são publicados semanalmente no Acontece na  no Diário do Comércio (ACSP), Meio Norte (Teresina), A Gazeta (Cuiabá), Jornal da Cidade (Poços de Caldas) e Brazilian Voice (EUA). No rádio, sempre às segundas-feiras, das 15h às 16h, "O Gogo de Aquiles" vai muito bem, obrigado. Você poderá escutá-lo (no Rio de Janeiro) sintonizando diretamente na Rádio Roquete Pinto, ou (fora do Rio) na internet: www.fm94.rj.gov.br .