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Coisa muito fina


Antes mesmo de se ouvir as dez faixas do álbum, ao tomar conhecimento dos compositores escolhidos para fazer parte do repertório, já desponta nítido o que Antonio Adolfo deseja: revelar consonâncias entre o samba brasileiro e o jazz norte-americano; descobrir afinidades musicais entre o som criado aqui e o que se faz lá fora.

Para tanto, Antonio levou grandes músicos para o estúdio: Leo Amuedo (guitarra elétrica), Claudio Spiewak (violão), Marcelo Martins (sax tenor e flauta), Jorge Helder (baixo acústico) e Rafael Barata (bateria e percussão). Com eles, Adolfo mistura o “chiclete” dos gringos (são seis temas de John Coltrane, Dizzy Gillespie, Keith Jarret, Bill Evans, Chick Corea e Neville Potter) com a “banana” brazuca (quatro composições do próprio Antonio). Contemporâneos, eles estão um passo à frente de qualquer modernosidade.

“Floresta Azul” (Antonio Adolfo) abre o disco com Antonio ao piano. A bateria o acompanha tocando levemente, mesmo quando faz uso dos pratos. A flauta traz para si a responsabilidade de tocar a melodia – aliás, muito bem concebida pelo autor, que a embalou em harmonia de intenso vigor brasileiro. Flauta e piano soam juntos, num belo uníssono. O baixo acústico dá o peso que o samba carece para ter suingue. A guitarra soa bonito. Para solar, AA privilegia notas soltas no piano. A flauta retoma o protagonismo, seu intermezzo é esplêndido. O baixo acústico sola e brilha. A flauta trina e, mais uma vez, se junta ao piano. Belo diálogo musical.

“Balada” (Antonio Adolfo) é outra bela composição. O piano e o baixo acústico iniciam. A bateria, como pede a suave melodia, toca delicadamente. A guitarra sola, enquanto o piano ainda se faz presente; baixo e bateria os aconchegam como se protegessem o som que tão bem exprimem. O improviso agora é do piano. Sob um crescendo inspirado, a balada se revela pujante. O piano continua a brilhar, agora com o apoio mais incisivo de guitarra e baixo, até que este “rouba” o improviso para si e conduz ao final.

“Giant Steps” (John Coltrane) tem o sax tenor com pegada jazzística. Piano e sax iniciam. Um rufo de bateria puxa os outros instrumentos para fazer o tema soar como numa quadrilha. O baixo e a bateria se encarregam da missão com competência. Sob uma leve percussão, o piano sola. A bateria volta a marcar. O sax assume. O baixo acompanha. A guitarra sola, seguindo-se um solo do baixo. A bateria os apoia. O piano volta. O sax volta a solar. O piano se junta a ele. A bateria vem junto. Piano e sax dão-se ao improviso. Fim.

Meu Deus! O espaço acabou, mas o CD, não (seguirei ouvindo-o, agora e sempre). Resta um consolo, compreensivos leitores: comprem e ouçam Finas Misturas, mais um discaço com a chancela do grande músico que é Antonio Adolfo.

Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4