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CAUBY, CAUBY!


Este título acima, uma quase exclamação, ficou reconhecido como um dos mais célebres LPs do grande cantor cujos 90 anos celebramos hoje. Como contra face ao título, postamos a foto que o ilustra, feita momentos antes de eu ocupar a Tribuna da Assembleia Legislativa do Estado do Rio, a pedido expresso do Cauby, para agradecer em nome dele a homenagem que lhe seria tributada em instantes para receber o Título de Cidadão Honorário Fluminense, ao lhe ser imposta a Medalha Tiradentes, a mais alta honraria da Assembleia.


- “Mas Cauby, por que você mesmo não discursa?”, perguntei-lhe ingenuamente. A resposta veio de imediato – “Eu não falo, eu só sei cantar.”


De fato, depois de perfilar quase toda sua gloriosa carreira por quase meia hora e de acentuar a importância capital tanto de sua presença nos corações brasileiros quanto dos sulcos profundos impostos ao Brasil pela grandeza de sua garganta de ouro, de seu repertório, da simplicidade de seu comportamento pessoal como estrela da radiofonia e dos discos, Cauby pôs-se ao meu lado, tomou delicadamente o microfone e disse apenas “Só posso agradecer essas palavras do Ricardo e ao Deputado que propôs essa Sessão que a ALERJ me presta, além da presença dessa multidão sentada aqui a minha frente com o começo dessa canção, meu primeiro sucesso, e cuja letra pode remeter à minha própria vida e ao povo pobre de Niterói, de onde venho.”


Fez meio segundo de silêncio e entrou: “Conceição, eu me lembro muito bem / Vivia no morro a sonhar / Com coisas que o morro não tem / Foi então / Que lá em cima apareceu / Alguém que lhe disse a sorrir / Que, descendo à cidade, ela iria subir...”


“Esta Conceição é o meu próprio retrato. Conceição, eu te agradeço por me ser tão fiel.”

Baixou a cabeça, curvou-se e agradeceu. O público levantou-se num ímpeto e aplaudia Cauby quase em frenesi por quase cinco minutos ininterruptos.


Ao olhar emocionado para ele, vi sua face molhada por lágrimas.


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Ricardo Cravo Albin