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A semana das mulheres faladas


Diário de uma garota normal (Faro, R$ 39,90), da artista plástica Phoebe Gloeckner, é baseado em suas próprias experiências de adolescente na década de 70, em São Francisco. Criada pela mãe, uma mulher de comportamento bastante liberal, que consome drogas diante das filhas (e não é só maconha, não; rola de tudo no desorganizado lar da família), a jovem Minnie, enquanto pula de escola em escola, mantém uma animada vida sexual e um romance secreto com o namorado da mãe. O caso com Monroe é o fio condutor da história, lançada em 2002, com ilustrações que não apenas ilustram a trama, mas fazem parte da narrativa. A adaptação cinematográfica foi premiada em Sundance. Uma leitura incômoda, a história é contada a partir e apenas do ponto de vista de Minnie, que não faz julgamentos morais sobre os adultos que a cercam. Um contraponto a tantos “diários” fictícios de mocinhas  que sonham com namoros casto e romantizam  a perda da virgindade. Phoebe Gloeckner mostra que o desejo sexual move as mulheres, tendo como pano de fundo uma família fora de padrões convencionais. Seu total desinteresse pela escola, a falta de compromisso e de sentido afloram e constrangem tanto o leitor quanto o envolvimento com um adulto.

A sexualidade das adolescentes é o primeiro ponto abordado pela jornalista Naomi Wolf em  Promiscuidades – A luta secreta para ser mulher (Rocco, diversos preços na Estante Virtual), da jornalista  Naomi Wolf. Naomi ficou mundialmente famosa no início dos anos 1990 com O Mito da Beleza (Rocco, esgotado, que pode ser lido no link http://brasil.indymedia.org/media/2007/01//370737.pdf), que discorre sobre como os parâmetros estéticos aprisionam a mulher ocidental desde que a criação da pílula anticoncepcional libertou sua sexualidade. A beleza passa a tolher tanto quanto a moral, diz Wolf, que, em Promiscuidades, lançado no Brasil em 1998, trata da carga social sobre as mulheres da puberdade à maturidade, diante dos estímulos eróticos dos produtos culturais. Ela lembra que, mesmo sexualmente liberadas, as mulheres ainda são julgadas por suas atitudes, devendo manter uma postura recatada. 

Ao longo desta semana, Simone de Beauvoir ficou “falada” – no bom sentido. Embora tenha aderido tardiamente ao feminismo, seu brilhante estudo sobre a condição das mulheres em O Segundo Sexo (Nova Fronteira, 120,90) continua atual. Para muitos, a citação no Enem criou o interessa por essa pensadora, que viveu à frente de seu tempo, sem render-se ao casamento formal para viver o companheirismo com Jean-Paul Sartre, enquanto se entregava a outros amores também, dentro do acordo de se manterem juntos, em relações abertas. Em diversas de suas obras de ficção tem como protagonistas mulheres casadas, sem qualquer tom de crítica aos contratos sociais, preferindo refletir sobre as questões existenciais. Seu legado maior foi, no entanto, a pesquisa sobre o papel da mulher na sociedade ocidental, referência, até hoje, para a observação do feminino. 

E, para fechar o feriadão com uma leitura agradável, bom é ir pra rede com O amante japonês (Bertrand, R$ 39,90), o último lançamento da chilena Isabel Allende no Brasil. Uma enfermeira romena nos Estados Unidos descobre a paixão de juventude da senhora idosa pelo jardineiro da família, às vésperas da Segunda Guerra Mundial. Se a trama parece banal, ela se torna uma discussão sobre a maturidade em nosso tempo e os valores do passado, através da pena certeira de Isabel Allende, uma das grandes narradoras do romance popular contemporâneo.