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A melancolia pede passagem


Com suas canções melancólicas, voz grave, sempre elegante, de paletó e chapéu, Cohen publicou uma dúzia de livros de poesia e dois romances. O amor pela literatura era tamanho que a filha recebeu o nome de Lorca, pois não queria que o poeta espanhol “passasse” por sua vida, mas que dela participasse, sempre. A descoberta de Garcia Lorca, na adolescência, estimulou Cohen a escrever poesia, porque pretendia “responder àqueles poemas (de Lorca). Cada poema que toca você é como um chamado que precisa de resposta”, dizia ele em entrevistas. Ao mesmo tempo, afirmava que sua principal razão para a incursão na poesia era a facilidade em atrair moças bonitas, numa época que “não era como hoje; você não dormia com a sua namorada. Eu só queria abraçar alguém”. As tiradas bem-humoradas do romântico compositor romântico, adepto do budismo, mas que sempre observou os preceitos judaicos, estão em I’m your man – A vida de Leonard Cohen (Best-Seller, R$ 79,90), de Sylvie Simmons. A biografia mostra a extrema dedicação de Cohen à música e seu apuro como compositor – ele levou cinco anos trabalhando a mais conhecida de suas canções, Hallelujah,  até considerá-la pronta para ser lançada.

A devoção à literatura é um dos temas de Elena Ferrante, a italiana que tem arrebatado leitores adultos que se comportam como adolescentes encantados por seus autores favoritos. O fenômeno editorial é analisado no documentário Ferrante Fever, do cineasta Giacomo Durzi, que vai abordar não apenas a qualidade de sua obra, mas a decisão de escrever sob pseudônimo, o que levou à uma investigação jornalística que teria descoberto a identidade da escritora. A Febre Ferrante gerou uma corrida nas editoras mundo afora para lançarem tudo o que ela já escreveu, como A filha perdida (Intrínseca, R$ 34,90), publicado em 2006, e Uma noite na praia (Intrínseca, R$ 34,90), seu primeiro livro destinado ao público infantil. A ambientação das duas histórias e é a mesma: a praia numa cidadezinha turística. A trama também tem elementos comuns: uma bonequinha é perdida. É na praia que a protagonista de A filha perdida, a professora universitária Leda, observa uma família de napolitanos barulhentos, exatamente o tipo de pessoas das quais tentou se distanciar a vida toda. A mobilização para encontrar a boneca da menininha Elena, que está sempre sob cuidados de sua jovem mãe, Nina, aproxima Leda do grupo, e a leva a recordar suas próprias escolhas. Uma noite na praia parte do ponto de vista de Celina, a boneca que Mati esquece na areia, quando seu pai lhe traz de presente um gatinho. Falando belamente de abandono, amor e temores, as duas narrativas se complementam dentro do universo melancólico de Elena Ferrante.