Loading...

A eternidade folhetinesca


A origem da telenovela melodramática, que tem nos embates amorosos seu eixo, está no folhetim, surgido na França no século XIX, que teve entre seus principais artífices Alexandre Dumas, Charles Dickens e Machado de Assis. A imensa popularidade desses autores e de suas tramas históricas, muitas com alto cunho de denúncia social, deve-se à perfeita combinação entre boa narrativa e tramas que sempre atiçam a curiosidade do leitor, levando-o a querer acompanhar o desenrolar da história. Uma técnica que foi importada pelo rádio, pela televisão e pelo cinema, que produziu seriados para cativar plateias infanto-juvenis na primeira metade do século XX.

O amor romântico, uma criação literária que convenceu a sociedade de sua existência, segundo historiadores e psicólogos, é elemento imprescindível aos folhetins, nos quais os apaixonados se comportam como pré-adolescentes, passando por cima de qualquer dificuldade para estar ao lado de seu amado. Em Payback – A dívida e o lado sombrio da riqueza (Rocco, R$ 24), a canadense Margaret Atwood afirma que o dinheiro é o principal tema literário, acima do amor. A volúpia pela ascensão social, a baixa autoestima dos devedores, a dívida alçada à condição de defeito moral mesmo em tempos pré-capitalistas são alguns dos argumentos da romancista, que aponta a angústia causada pela falta de dinheiro em clássicos como O morro dos ventos uivantes e Fogueira das vaidades. Ainda assim, os amores trágicos continuam norteando personagens e conquistando públicos distintos, que se encantam ao ver no mundo real o reflexo dessas uniões fadadas à tristeza ou desprezo social. A espanhola Rosa Montero lembra em Paixões – Amores e desamores que mudaram a história (Ediouro, R$ 10, em sebos)  a trajetória de casais famosos como Marco Antônio e Cleópatra – e seus intérpretes cinematográficos, Richard Burton e Elizabeth Taylor -, os escritores Dashiell Hammet e Lillian Hellman, Evita e Juan Peron, Oscar Wilde e o infame Bosey, enamorados expostos para encantamento das “gentes comuns”.

É essa estrutura apaixonante que Eka Kurniawan traz em A beleza é uma ferida (Record, R$ 69,90), uma empolgante fábula de realismo fantástico, repleto de magia e paixões avassaladoras, incestuosas, que têm como pano de fundo a história da Indonésia a partir da Segunda Guerra Mundial. A cada capítulo se desvenda um pouco mais sobre a vida na imaginária cidade de Halimunda, seguindo o momento em que a prostituta mais célebre da região, Dewi Ayu, sai do túmulo onde foi enterrada 21 anos antes para resgatar o passado de suas quatro filhas, de seus pais e avós e de alguns de seus amantes, num texto que segue a narrativa do folclore local, pouco conhecido no Brasil.