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A baianidade do Cama de Voz


Doze arranjos do disco foram criados por Braulio Villares Barral, sendo que em um contou com a participação de Tony Mello. O som vocal do CdV, pautado por tonalidades mais baixas, para conforto dos três vocalistas, é todo puxado para o grave. A primeira voz, a que conduz a melodia, é sempre cantada numa região intermediária de conforto – por isso não carece de falsete – e conduz as outras duas. Estas, por sua vez, são quase sempre vocalizadas em tom mais grave do que a primeira. Além dos uníssonos precisos, o resultado é uma sonoridade encorpada e popular, no sentido de que soa como um grupo de amigos improvisando abertura de vozes, agradável de ouvir, que facilita o entendimento das letras e cria atmosfera de agradável festividade. Clima esse que está implícito na seleção das músicas e nos nomes dos convidados que dividem as interpretações com o CdV. O samba da Bahia pontifica, bem como surgem firmes outros ritmos tradicionais da terra de Caymmi.Impulsionada pelos competentes arranjos instrumentais (onze dos doze) do mesmo Braulio Barral, a alegria está presente da primeira à última faixa. Dentre outros convidados, a prazerosa surpresa é ouvir Dóris Monteiro. Ela canta “Rosa Morena” (Dorival Caymmi) com o trio. Piano, sopros (belo intermezzo do sax), bateria e violão dão suingue ao samba. Dóris se esbalda junto com os meninos. Show.  “Cada Macaco no Seu Galho” tem a participação da figuraça que é Riachão, o autor desse sucesso. Com sua voz diferenciada somada ao vocal do trio, ele dá um banho de bola.Outra convidada é Carla Vise. Ótima cantora, ela divide “Chiclete com Banana” com o CdV. O coro come. A levada esperta do samba dá a eles a chance de interpretar um arranjo à altura do grande sucesso de Gordurinha e Almira Castilho, com direito a fino improviso de piano sobre o coro. “Ijexá” (Edil Pacheco), tendo o autor como convidado, é exemplo da diversidade rítmica da música baiana. Contagiando as vozes, os sopros e a percussão dão as cartas. Os “de vocal” atraem seus iguais. E foi assim que o CdV se juntou ao Trio Irakitan para cantar “Eu Vim da Bahia”. As seis vozes se integram à perfeição e cantam o samba de Gilberto Gil com o molho com que ele foi criado. A festa se completa com o contagiante “Pombo Correio” (Dodô, Osmar e Moraes Moreira). Vibrando ao som da guitarra baiana de Armandinho, do Trio Elétrico de Armandinho, Dodô e Osmar, os meninos do Cama de Voz fecham o álbum com a certeza de que elevaram a música da Bahia a um posto que dispensa concessões popularescas para se fazer popular de fato.Aquiles Rique Reis, músico e vocalista do MPB4